Em outubro de 2020, os Açores foram chamados a votar nas eleições mais importantes da sua geração. Aconteceram durante o auge de uma pandémica catástrofe mundial, no começo de uma desastrosa vaga de intensas crises económicas, e contaram, pela primeira vez, com a presença de novos partidos, à direita, com duvidosos interesses e princípios.
Os resultados espelharam essa incerteza. Os votos dividiram-se pelas muitas opções e não demonstraram uma intenção clara. Nem todas as pessoas desejavam fugir aos 24 anos de PS. Antes pelo contrário. E nem todas queriam o PSD no poder, mas muitas mais desejavam novas visões, longe de um sistema de status quo aparentemente em falência moral.
Eis que José Manuel Bolieiro ouviu o chamamento da ala mais conservadora do seu partido e promoveu a criação de um arco de governação, que muito mais do que geringonça, veio antes revelar ser um saco de gatos. Há os que lá estão para se promover e promover a família. Os que vieram atirar os últimos e moribundos cartuchos. Os falsos profetas da economia e os humanistas de fachada. E, por fim, o pacto final com o diabo do fascismo, renascido em José Pacheco e André Ventura.
Em pouco mais de dois anos, são demasiadas as intervenções diabólicas de Pacheco para agora aqui as citar todas. Ainda assim, importa dizer que ele não esperava ser eleito, e assim que o fez empurrou Carlos Furtado para a rua.
Importa recordar que ele é a cara de um partido, e que todas as suas comunicações públicas são recheadas de ódio, machismo, insultos, palavrões e falsas vitimizações. Não se reconhece, em cerca de dois séculos de política constitucional, deputado tão desumano. É ele que vos representa, Chega? Talvez não. Talvez por isso tenha voltado humilhado da mais recente eleição interna nacional do seu partido, onde acabou afastado dos órgãos administrativos e governativos, relegado para o lugar de bobo da corte, em incumprimento com as palavras do seu querido líder, que manifestou não querer mais sacos de gatos com o PSD.
Até Ventura, profeta do fascismo, já percebeu que Pacheco é uma cara que ele não quer ao seu lado. Quando voltou, Pacheco veio em fúria, espingardeando contra tudo e todos. Em declarações ruborizadas, gritou aos jornalistas que era ele que mandava nos Açores. Disse-o assim, sem tirar nem meter. Bolieiro, Artur Lima e Paulo Estêvão nada disseram.
O pacto com o diabo saiu reforçado. Pacheco ganhou terreno. Em bicos de pés, deitou o seu olhar maligno ao longo das nove ilhas, e desenhou o próximo alvo: a educação. Veio insultar o ensino profissional, apelidando-o de “depósito de lixo”, chamando alunas e alunos de lixo, numa clara aclamação aos tempos do outro senhor. Talvez por isso gostem todos muito de tratar André Ventura por “doutor”. Para eles, os profissionais nada valem se não for com os canudos que ele gosta na mão.
Ainda nesse mesmo ensejo, denunciou a existência de professores que, de acordo com Pacheco, “falam mal do Chega” aos seus alunos. Nomeou um caso, saindo diretamente de um cartoon sobre a PIDE para finalmente assumir o que nós sempre soubemos. José Pacheco deseja o regresso da censura.
E parece que odeia professores. Pelo menos as e os que falam do seu partido. Não entro no jogo dele, nem vou perder tempo a explicar que os docentes falam do que acharem por bem falar, dentro do seu currículo escolar e dos seus princípios pedagógicos. Não me digno a perder muitas linhas a falar dos professores que falam e defendem o Chega, mesmo sabendo que existem.
O que interessa aqui reforçar é que Sofia Ribeiro, Rui Espínola, José Manuel Bolieiro ou Artur Lima, nada dizem. Quem cala, consente. E o Governo Regional dos Açores já parece ter consentido. Quem manda agora é o diabo do fascismo. Esperemos que as açorianas e os açorianos saibam lutar para que isso não dure muito tempo.