Os fortes do Tagarete e Corpo Santo, estruturas históricas desativadas localizadas em Vila Franca do Campo, Açores, foram reconstruídos virtualmente, numa iniciativa da Câmara Municipal que permite “refletir” sobre os espaços através de uma viagem no tempo.

“Tratou-se de uma necessidade em virtude do contexto. O forte do Tagarete é uma das poucas fortificações que ainda conserva parte da sua estrutura original, mas quem for à zona vê a estrutura um pouco engolida pela envolvência do cais e da atividade piscatória”, explica o coordenador do projeto, Diogo Teixeira Dias, em declarações à agência Lusa.

Realçando que as “reconstruções virtuais estão enquadradas pela arqueologia virtual”, o investigador destaca que o “objetivo” passou por divulgar o património dos fortes sem “intervir no espaço”.

“Sem intervir diretamente no espaço, o objetivo foi criar um conjunto de instrumentos que permitissem às pessoas, quer locais, quer visitantes, perceber como eram os espaços”, explica.

Para o arqueólogo, a reconstrução virtual dos dois fortes, que estão muito próximos geograficamente, deve suscitar uma reflexão sobre as infraestruturas, que já “há muito tempo” servem de “estacionamento às embarcações” de pescadores, que ali encontram abrigo do vento.

“O objetivo foi que as pessoas percebessem o que é que era aquele espaço. O que é que ele é, como é que ele foi e o que se preservou até aos dias de hoje. Refletir sobre o que foi o forte e refletir sobre o que querem que ele seja no futuro”, conta.

As reconstruções foram divulgadas em imagens e vídeos na Internet, mas um dia “poderão ser colocadas” no local.

O forte do Corpo Santo terá sido erguido por volta de 1570, acreditando tratar-se da primeira infraestrutura do género de Vila Franca do Campo, concelho que foi a primeira capital de São Miguel, estatuto que perdeu devido à destruição causada pelo sismo de 1522.

A partir de finais do século XIX, os fortes “começaram a ter outros usos”, tendo as utilizações sido “intermitentes”.

O forte do Corpo Santo, por exemplo, acolheu um matadouro municipal durante a segunda metade do século XX.

Contudo, quando eclodiam guerras, as fortificações eram reabilitadas.

“Quando havia um conflito, reabilitava-se a fortificação novamente. O forte do Tagarete, por exemplo, tem uma posição de metralhadora feita no período do Estado Novo”, justifica.

No sistema virtual, diz o arqueólogo, consegue-se ter a interpretação das várias épocas de ocupação do forte, sem se intervir no forte, “porque isso também já não é desejável”.

Diogo Teixeira Dias foi também responsável pela criação do Vila 3D, que disponibilizou ‘online’ 34 modelos de edifícios e de peças provenientes do museu municipal e de outras coleções relacionadas com o concelho (como o edifício da câmara, fragmentos de azulejos do século XV ou a pia batismal da igreja Matriz do século XVI).

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