Os municípios da ilha de São Miguel, nos Açores inauguraram hoje um Centro de Tratamento Biológico de Resíduos, um investimento de 7,6 milhões de euros que vai permitir valorizar resíduos que até aqui eram considerados “indiferenciados”.
“Até hoje os resíduos produzidos nas nossas cozinhas eram colocados em aterro. Não tinham qualquer tipo de valorização. Estamos a falar de cerca de 30% do total dos resíduos produzidos na ilha de São Miguel e que eram considerados indiferenciados”, afirmou o presidente da Musami, empresa que gere os resíduos dos seis concelhos da ilha de São Miguel, Ricardo Rodrigues.
Segundo o responsável, a instalação agora inaugurada e que custou 7,6 milhões de euros, “vai tratar e valorizar esses resíduos, transformando-os em cerca de 4,5 mil toneladas de composto” que os agricultores podem utilizar nas terras.
O também presidente da Câmara de Vila Franca do Campo falava aos jornalistas no complexo da Musami, em Ponta Delgada, após a cerimónia de inauguração do novo equipamento.
Ricardo Rodrigues reforçou que o Centro de Tratamento Biológico dá um “passo significativo” na valorização dos resíduos, por oposição à incineração, que é o “último grau da hierarquia”.
O presidente da Musami adiantou também que já foram executados mais de 40 milhões de euros previstos para o Ecoparque de São Miguel.
“O ecoparque da ilha de São Miguel tem um investimento geral de 92 milhões de euros. Já executamos mais de 40 milhões de euros desse investimento. Claro que temos fundos comunitários. Somos responsáveis por 15% desse investimento e [o restante] são fundos comunitários nacionais”, realçou.
Ricardo Rodrigues afirmou igualmente que a central de valorização energética da ilha “está em obra”, ficando concluída no “final de 2024” e lamentou os “contratempos” que marcaram o processo.
A propósito da central, o autarca criticou o “idealismo dos fundamentalistas”, defendendo que “não existe alternativa” à incineração para um “certo tipo de resíduos” que representam cerca de 40 mil toneladas.
“Tenho pena que este processo tenha tido estes contratempos. Algumas pessoas da nossa região tentaram atrasá-lo. Inclusive alguns com responsabilidade política tentaram colocar ações no tribunal achando que eram os reis dos Açores”, declarou.
Em 2016, a Associação de Municípios da Ilha de São Miguel decidiu, por unanimidade, avançar com a construção de uma incineradora de resíduos, orçada em cerca de 60 milhões de euros.
O contrato entre a italiana Termomeccanica e a MUSAMI – Operações Municipais do Ambiente para a construção da incineradora, num investimento de 58 milhões de euros, foi assinado em fevereiro de 2021, apesar das contestações judiciais por parte de várias associações ambientalistas.
Um dos processos para travar a construção da incineradora foi movido pelo líder do PPM na região, Paulo Estêvão.
Na inauguração do centro de tratamento biológico, o secretário do Ambiente e Alterações Climáticas do Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) considerou tratar-se de um “passo fundamental na mudança de paradigma na gestão de resíduos de São Miguel”.
Alonso Miguel evocou ainda o aumento de 3,4% na taxa de preparação para reutilização e reciclagem registado na região em 2022 (a taxa total foi de 33,4%), que demonstram “uma tendência de crescimento da reciclagem”.
“[Os resultados] ainda nos deixam distantes das metas definidas a nível comunitário e no PEPGRA20+, mas estamos convencidos de que com esta colaboração entre o Governo Regional, as câmaras, as juntas, os operadores de gestão e os açorianos será possível atingir as metas”, declarou.
O novo Plano de Gestão de Resíduos dos Açores (PEPGRA 20+) pretende atingir uma taxa de reciclagem de 55% em 2025.