Numa altura em que a guerra parece durar eternamente e que o sangue parece ter-se tornado parte da nossa rotina, sobretudo nas imagens disseminadas pelos telejornais, a notícia de que o Hamas terá aceitado uma proposta de cessar-fogo de 60 dias devolve um pouco de esperança ao Médio Oriente e também ao mundo. É certo que ainda não se trata de um acordo efetivo para a paz, mas talvez seja o caminho para a alcançar.

O esboço deste acordo, que envolve a troca de prisioneiros, a libertação de reféns, a entrada em massa de ajuda humanitária e um recuo limitado das forças israelitas mostra que, mesmo em cenários que são absolutamente devastadores, a diplomacia permanece como uma ponte entre um cenário de desespero mas também de esperança. Cada edifício reconstruído, cada família ajudada é uma vitória contra a guerra e contra aqueles parecem não querer saber das questões humanitárias.

Bem sei que a resposta israelita continua em suspenso, e também sei que as divisões internas no governo de Netanyahu revelam a fragilidade de um possível acordo pela paz, sobretudo tendo em conta os sinais de que a paz se encontra de certo modo refém da classe política. Ainda assim, parece-me importante sublinhar que este documento está próximo de uma proposta que Israel já aceitou no passado, com a mediação dos EUA. Por isso, creio que é legítimo achar que se poderá dizer que a palavra “cessar-fogo”, desta vez, pode significar mais do que uma mera pausa estratégica.

Num mundo amplamente fatigado por imagens de destruição e por um número chocante de mortos derivados deste conflito, qualquer oportunidade de silenciar armas deve ser acolhida como uma espécie de imperativo moral. Não podemos continuar a achar que a guerra é um destino e, por isso, inevitável. Também não podemos achar que a vingança é uma estratégia profícua.

É legitimo haver desconfiança, depois de tantos avanços e recuos, é normal duvidar. Mas também defendo que é necessário acreditar. Porque no fundo, a paz não nasce do nada, mas sim de pequenos gestos de cedência. É assim na guerra e é assim no nosso dia-a-dia. Acordos parciais que preparam soluções de carácter mais duradouro.

Em suma, este cessar-fogo pode não resolver o conflito entre Israel e a Palestina, mas pode devolver a dignidade às pessoas. Elas sim, ponto crucial de todo este conflito.

A esperança acaba por ser, na minha opinião, uma forma de resistir. Resistir contra a indiferença, contra a coerção, contra a ideia de um mapa de guerras sem fim.

Na minha perspetiva, se Israel aceitar a trégua, podemos acreditar que mesmo nos momentos mais difíceis, a humanidade é capaz de escolher o caminho da paz.

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