As tarifas impostas pela administração Trump sobre um vasto conjunto de importações têm, até ao momento, um impacto visível mas controlado nos preços no âmbito interno dos EUA. A inflação mantém-se dentro das margens previstas e de algum modo aceitáveis, sendo que um número considerável de consumidores ainda não sente, de forma direta, o peso destas medidas no bolso.Esta aparente estabilidade pode, no entanto, esconder dinâmicas de implementação e impacto mais lentas.

As empresas, sobretudo as de maior dimensão, têm conseguido gerir e adaptar-se no sentido de garantirem que os impactos destas medidas não se fazem sentir. Mas à medida que o tempo passa, é normal que a pressão sobre os consumidores aumente.

Na perspetiva do presidente dos EUA, DonaldTrump, estas tarifas servem como meio de proteger a produção interna e reduzir a dependência de mercados externos. Este argumento é sedutor no plano político, na medida em que criar mais empregos nos EUA, fortalecer a indústria e limitar a influência económica de países concorrentes é, no papel, dificilmente refutável. Porém, na prática, o efeito real destas medidas pode ser bem mais difuso. Por exemplo, pequenas empresas que dependem de peças e matérias-primas importadas já enfrentam custos mais elevados e, o risco associado de que estes aumentos impactem o consumidor final é naturalmente expectável.

O ponto crucial de tudo isto é que as políticas comerciais desta natureza não tendem a esgotar-se nos primeiros meses. Ou seja, o seu alcance mede-se a médio prazo, quando as cadeias de abastecimento se reorganizam e os preços refletem as novas barreiras alfandegárias, por exemplo. A narrativa atual é de que o impacto é moderado, todavia, amanhã o cenário poderá ser bem distinto, se a inflação responder de forma mais acentuada e se os consumidores se aperceberem de que estas medidas podem afetar diretamente o seu orçamento familiar.

Num cenário global marcado por tensões comerciais e competição geopolítica, as tarifas de Trump são uma declaração política de interesses mas também uma aposta de carácter económico. O desfecho desta aposta parece-me estar ainda por escrever mas como tenho vindo a alertar, é perigoso fazer jogos e experiências com a principal potência do cenário geopolítico internacional.

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