É conhecido que a natureza vulcânica dos terrenos do Vale das Furnas associada ao clima ameno, e aos seus ricos e variados recursos hídricos, é favorável à existência de uma floresta extraordinária (fundamental para a reconstrução de Vila Franca do Campo depois do sismo de 1522), com árvores magníficas e ao desenvolvimento da produção de citrinos, peros e maçãs que faziam a delícia dos micaelenses e dos forasteiros que nos visitavam.

Meu avô em jeito de brincadeira costumava dizer que a terra das Furnas era tão rica que se uma pessoa descalça em cima da terra nua não mexesse com frequência os pés, corria o risco de lhe nascerem raízes nos pés em pouco tempo, desconheço se a autoria era mesmo dele ou não, o certo é que era uma “história” que dava bem nota da força daquele solo.
Um dos produtos agrícolas/frutos com que fui criado nas Furnas, entre os muitos que lá existiam, foram as Maçãs das Furnas, de cor esbranquiçada, com um toque de acidez e com um perfume característico inigualável.

Há uns anos estava a caçar ao coelho-bravo numa das margens da Lagoa Seca das Furnas, no meio de conteiras enormes, quando me apercebi daquele perfume inconfundível da minha infância, de facto estava no meio de um pomar de Maçã das Furnas totalmente abafado por conteiras, mas que não eram suficientes para conter aquele cheiro precioso de cerca de uma dúzia de Maçãs que por lá resistiam.

No século passado eram várias as famílias Furnenses que produziam estas Maçãs, sendo frequente encontrar-se vendedores “ambulantes” estrategicamente colocados nas Caldeiras das Furnas, nas Três Bicas e até na Lagoa das Furnas com as suas cestas de Maçãs a venderem esta preciosidade, mas também podia ser comprada em alguns estabelecimentos comerciais do Vale e até em casas particulares.

Hoje, não obstante, alguns Furnenses continuarem a ter algumas macieiras destas, e técnicos como o Eng⁰ Moniz da Ponte, terem desenvolvido um trabalho meritório na sua recuperação, o certo é que a Maçã das Furnas praticamente desapareceu das casas particulares e do mercado, fruto da emigração, desaparecimento desta vida de alguns produtores, falta de mão de obra para cuidarem os pomares, mudanças no clima, e principalmente porque o modelo económico e social existente nos Açores mudou, optando-se presentemente pela importação de quase toda a fruta que consumimos, embora nos últimos anos nos Açores existam alguns exemplos de pessoas que por carolice ou por opção de vida estejam a optar pela diversificação agrícola.

No Vale Formoso em que cresci, a par da Maçã das Furnas, tínhamos a Maçã vermelha, os Peros malaipos, as Ameixas e as Pêras, e ainda as Laranjas, Mandarinas e as Tangerinas, praticamente tínhamos todos os produtos associados aos climas temperados e tropicais. Neste contexto, as compotas e os licores eram uma extensão natural de toda esta variedade e riqueza de frutas.

PUB