Gualter Furtado

Em primeiro lugar gostaria de fazer uma declaração de interesses, que é a de considerar as 9 ilhas do arquipélago dos Açores serem todas elas tesouros da biosfera, terem belezas extraordinárias e possuidoras de um património humano e edificado notável. Os Açores valem pelo seu conjunto, pela sua diversidade e complementaridade. Existem elementos comuns que identificam as ilhas açorianas,  mas é marcante a diferença de usos e costumes entre elas, até nos nomes que identificam um objeto, ou, uma planta, na forma como se confecionam os alimentos e por exemplo como se festeja o Divino Espírito Santo, a festa por excelência que une os açorianos, é no respeito destas diferenças que se constrói a unidade e engrandece a Região Autónoma dos Açores.

Colocada esta reserva, considero que é com naturalidade que aconselharia a um residente nos Açores, ou, a um não residente, fosse ele nacional, ou, estrangeiro, a fazer um esforço financeiro, para conhecer as nossas 9 ilhas dos Açores. Para os residentes nos Açores esta viagem por todas as ilhas nos Açores deveria ser um direito e um dever natural, porque é com esta partilha e sentimento de conhecimento e solidariedade, que se consolida a Região Autónoma dos Açores.

Mas a pergunta que me é colocada, é para dar 3 sugestões para passar o Verão nos Açores, sendo assim, fiz a seguinte opção: no grupo Ocidental agruparia as Flores e o Corvo, no Grupo Central optaria pela ilha Graciosa e no Grupo Oriental rumava a Santa Maria.

Mas antes de fundamentar estas escolhas, parto do princípio de que as pessoas que sigam esta sugestão dispõem de pelo menos 1 semana de férias, tem uma reserva no seu Orçamento que lhes permite fazer férias noutra ilha, até porque presentemente a procura dos Açores pelos turistas vai até ao local mais remoto, e a inflação também, depoisque tiveram o cuidado de fazer um planeamento destas viagens com a devida antecedência, principalmenteno que se refere aos transportes e a residência. Infelizmente, mesmo com passagens aéreas a 60 euros para os residentes, nem todos os nossos conterrâneos tem esta disponibilidade financeirapara custear estas férias.

Mas vamos então às minhas opções:

Aconselho o Grupo Ocidental, e o agrupamento das Ilhas do Corvo e das Flores, porque existem hoje soluções marítimas que permitem esta ligação e depois porque de facto estas 2 ilhas são complementares.

Estar no Corvo é ter a sensação de estar numa ilha que representa a expressão máxima da insularidade, estar muito próximo da fronteira mais a Ocidente da Europa, partilhar a vivência e a história de um povo resiliente, observar turfeiras e aves, ficar deslumbrado com a beleza do Caldeirão, passear pela Vila do Corvo, descobrir as suas Instituições e o seu artesanato e poder desfrutar da sua gastronomia, principalmente das variadas espécies de peixes que proporciona o mar que a rodeia e tantas possibilidades oferece.

Quanto à ilha das Flores, as suas belezas naturais são tantas, que até as pessoas menos sensíveis para com a natureza e o meio ambiente, muito dificilmente permanecerão indiferentes. Confesso, que desde a primeira vez que visitei esta ilha, fiquei marcado pela exuberância da sua floresta de cedros do mato, várias vezes sustive a respiração perante a beleza das suas lagoas e lagoeiros, com as suas vistas que nunca mais se esquece, e é sempre com uma forte emoção que me sento na Fajã Grande, a observar o ilhéu de Monchique, precisamente a fronteira mais a Ocidente da Europa. Quantas histórias e dramas nos poderiam transmitir a Fajã Grande e o ilhéu de Monchique relacionadas com a necessidade de muitos florentinos terem de emigrar a salto para a América do Norte.

Quanto à gastronomia e a restauração, já existem na ilha das Flores variadas e muito boas opções e não se esqueça de ir à procura e degustar um crepe,ou, omelete de erva-patinha.

Já fui caçar à ilha das Flores muitas vezes, mas em nenhuma delas me limitei ao ato cinegético, porque é impossível resistir ao meio ambiente deste tesouro da Biosfera,enriquecido por pessoas que nos recebem muito bem, como são a Ziza e o Carneiro. Sou apaixonado pela ilha das Flores, logo é muito fácil para mim aconselhar este destino.

Quanto ao Grupo Central, a minha sugestão vai para a ilha Graciosa, uma ilha tranquila e com muitos segredos bem guardados. Há quem erradamente considere a ilha Graciosa uma extensão da ilha Terceira, naturalmente, existem muitas ligações facilitadas pela proximidade geográfica, mas a Graciosa tem uma personalidade e uma história muito própria. Esta ilha é para se visitar e viver com tranquilidade e um sentido de observação muito apurado. Uma boa forma de começar a viagem por esta ilha é ir visitar o Museu da Graciosa, que está bem assinalado no centro da Vila e Concelho de Santa Cruz da Graciosa, e facilmente nos apercebemos que estamos numa ilha rica na produção de vinho e cereais, aberta ao exterior, principalmente com laços históricos importantes com o Brasil, o que é bem visível nos edifícios da sua magnífica Praça no centro da Vila, e que esta ilha não ficou à margem da epopeia que foi a “caça à baleia” nas diferentes ilhas açorianas.A riqueza que algumas famílias acumularam na emigração e no comércio, está bem explicita nas em algumas casas de graciosenses, nos seus móveis, e nas louças e faqueiros, que utilizavam. Tambémé visível que estamos numa ilha culta, através dos instrumentos musicais facilmente identificados em muitas casas e numa ilha, onde até o Carnaval é um ato de cultura.

A Graciosa faz parte da Rede Mundial de Reservas da  Biosfera da UNESCO e como tal tem vários sítios para  visitar, sugerindo-se uma ida à Furna do Enxofre, à Caldeira, desfrutar da Praça de Toiros edificada dentro de uma caldeira vulcânica, o que deve ser uma situação única  no mundo, ir à Serra Branca e ouvir as codornizes bravas (Coturnixcoturnixconturbans) a cantar, observar o vulcanismo da ilha, a sua Baleia de Pedra, nadar nas suas piscinas naturais, comer umas lapas, ou degustar um Molho de peixe àpescador, acompanhado por exemplo de um vinho branco da produção do meu amigo “comendador Picanço”, e como sobremesa deliciar-se com uma excelente meloa da Graciosa, ou, uma bem saborosa queijada da Graciosa. Esta ilha é ainda conhecida pela produção de alhos de muita boa qualidade, aliás, todos os anos no mês de agosto trago da Graciosa os alhos que consumimos durante o ano cá em casa. Faz parte do meu roteiro açoriano participar no mês de agosto nas Festas do Senhor Santo Cristo da Graciosa e viver as festas religiosas e desfrutar de toda a festa que anima a ilha nesta ocasião, incluindo as tascas e os espetáculos culturais animados pelo Grupo Folclórico e Etnográfico da ilha e pelas muitas Bandas de Música que a ilha tem. Em síntese, uma ilha a explorar com calma e um apurado sentido de observação.

Finalmente, no Grupo Oriental, sugiro a ilha de Santa Maria, uma ilha que fica muito perto da ilha Grande de São Miguel, como a chamou o meu saudoso amigo e escritor da Maia o Daniel de Sá. Presentemente, o acesso de passageiros a Santa Maria, é feito exclusivamente por avião, sendo desejável que o mais rapidamente possível esta ligação a partir da ilha de São Miguel também possa ser feita de barco de passageiros e com capacidade para transportar viaturas.

Estar na ilha de Santa Maria, é pisar o solo da primeira ilha do Arquipélago dos Açores a ser descoberta, primeiro avistada por Diogo de Silves em 1423 e depois reconhecida por Gonçalo Velho Cabral em 1431 no dia de Santa Maria. Esta ilha está carregada de história, também é conhecida como a ilha do Sol, devido às características do seu clima, ou, como a ilha do Barro, dada a disponibilidade deste tipo de argila na ilha e a importância que a  Cerâmica teve no passado, incluindo a exportação do Barro para a ilha de São Miguel enriquecer a sua olaria, é ainda conhecida como a ilha de Cristóvão Colombo, em homenagem à sua passagem pela ilha em finais do Séc XV, estando este evento devidamente assinalado com uma imponente estátua de Colombo na Baía dos Anjos de Vila do Porto, um lugar a não perder, pelo seu interesse histórico e de ligação ao mar. Aliás, nos Anjos e para quem goste de história tem muitos recantos para contemplar, a começar pela Ermida de Nossa Senhora dos Anjos (1493).

Quem valorizeo mar tem muito com que se entreter nesta ilha, refiroa Praia Formosa, com a sua areia clara,enquantoa areia da maioria das outras praias dos Açores é preta e como consequência da cor da rocha basáltica vulcânica negra que prevalece no Arquipélago. É nesta praia que se realiza a Maré de Agosto, um dos mais emblemáticos festivais de música que se realizam nos Açores, e precisamente o mais antigo. Temos também a Praia de São Lourenço com uma água excelente e também com areia clara. A que acrescem as Piscinas naturais dos Anjos e da Maia. Nas atividades ligadas ao mar é possível observar aves marinhas como o Cagarro, designação de como também são conhecidos os Marienses (os Cagarros), éainda oferecida a oportunidade a quem visita a ilha de contemplar baleias e golfinhos. Aliás, muito recentemente foi produzido um excelente programa de televisão filmado ao largo da ilha de Santa Maria e com o nome A Ilha dos Gigantes em que os principais protagonistas eram os tubarões-baleia, mas de igual modo são celebres as Jamantas da Baixa do Ambrósio da Ilha de Santa Maria. Estamos, pois, numa ilha com muito para explorar no domínio do mar e atividades conexas.

A ilha de Santa Maria também é conhecida pela sua riqueza extraordinária na gastronomia, de que destaco os pratos confecionados à base de Vejas, as Caldeiradas de peixe, o Caldo de Nabos, e as Caçoilas, enquanto na doçaria temos os Biscoitos de Orelhas, as Cavacas e os Búzios de Santa Maria, e a ilha ainda tem as famosas meloas de Santa Maria. Em síntese, nesta ilha, temos muito para ver, provar e até investigar no domínio das plantas endémicas e no estudo dos fosseis marinhos. Depois é fácil fazermos amigos nesta ilha!

Tal como já escrevi é fundamental para que estas férias de verão tenham sucesso que sejam planeadas e reservadas com a devida antecedência, não se esqueça que os Açores estão na moda.

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