Autor: PM | Foto: SATA
PUB

O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) reagiu esta quinta-feira com dureza às declarações da secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, acusando-a de desviar as atenções das verdadeiras causas dos prejuízos acumulados pelo Grupo SATA e de tentar responsabilizar injustamente os custos laborais.

“O SPAC repudia com veemência as declarações da Sra. Secretária Regional, que procurou imputar aos custos laborais a responsabilidade maior pelos prejuízos da SATA, ignorando deliberadamente o peso determinante de fatores estruturais que são da exclusiva responsabilidade do poder político”, afirma o sindicato em comunicado.

Para o SPAC, culpar os trabalhadores representa “uma clara tentativa de desviar a atenção da incapacidade do Governo Regional para assegurar condições estruturais essenciais a uma operação aérea eficiente e competitiva”.

PUB

O sindicato denuncia que continuam a existir “carências gritantes na infraestrutura aeronáutica açoriana”, apontando para aeroportos desadequados, procedimentos operacionais desatualizados e investimentos adiados que, na sua ótica, comprometem diariamente “a segurança, a eficiência e os custos de operação de todos os profissionais que nela trabalham”.

No mesmo documento, os pilotos sublinham que os custos indiretos gerados por más decisões políticas são, esses sim, um peso real para a empresa. “A contratação sucessiva de ACMIs é consequência direta de decisões de planeamento deficiente e da falta de investimento na capacidade operacional própria, tudo isso associado a constrangimentos infraestruturais”, referem.

O SPAC vai mais longe e acusa o Governo Regional de não tomar medidas contra a “alegada cartelização de preços de combustível”, um fator adicional que, segundo os pilotos, agrava a sustentabilidade financeira da transportadora aérea açoriana.

“Recordamos à Sra. Secretária Regional que não foram os pilotos nem os demais trabalhadores que criaram as condições que hoje asfixiam a companhia, mas sim quem detém a tutela política destas matérias, que falhou sistematicamente em intervir onde é devido: planear, investir, fiscalizar e modernizar”, afirma o sindicato.

Os pilotos rejeitam ainda o papel de “bodes expiatórios” e sublinham que mesmo que todos os trabalhadores abdicassem dos seus salários, “subsistiriam dezenas de milhões de euros de défice a exigir explicações ao poder político”. Acrescentam que “usar os profissionais como bode expiatório demonstra uma lamentável desonestidade intelectual”.

O sindicato destaca ainda o valor dos profissionais da aviação na Região: “A Região Autónoma tem uma enorme dívida de gratidão a todos estes profissionais, que diariamente garantem com competência e sacrifício pessoal a coesão territorial e a mobilidade entre ilhas.”

Numa crítica direta à classe política, o SPAC alerta que “pilotos não se formam em campanhas eleitorais”, realçando que “enquanto um piloto leva anos a formar-se para operar com segurança e excelência, os responsáveis políticos emergem da noite para o dia, sem que isso garanta qualquer competência técnica para tutelar matérias complexas como as infraestruturas aeroportuárias ou o setor aeronáutico regional”.

A concluir, o sindicato apela à responsabilidade e seriedade governativa: “Acusar quem trabalha de forma exemplar é apenas uma fuga à responsabilidade política por um rumo que, a manter-se, arrastará a companhia para o abismo.” E assegura que continuará a defender “intransigentemente a dignidade, competência e respeito devido aos pilotos e a todos os profissionais da aviação açoriana”.

 

PUB