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O motocross praticado na ilha de São Miguel, nos Açores, continua a ser uma modalidade sustentada pela paixão e dedicação de entusiastas locais. Embora com menor visibilidade mediática em comparação com os grandes campeonatos nacionais e internacionais, esta prática desportiva tem raízes profundas e uma história rica na ilha. Não é apenas um passatempo para alguns — é uma tradição cultivada ao longo das últimas décadas.

Importa relembrar que São Miguel foi pioneira na introdução do motocross a nível regional. O surgimento da mítica Pista Soluções M, situada no Parque Industrial do Cabouco e inaugurada em 2008, marcou uma viragem histórica para a modalidade nos Açores. Graças ao empenho de José Leonardo Soares, então presidente do Rosinhas V. Clube e delegado regional da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), e ao apoio do Grupo Marques, que cedeu os terrenos, foi possível organizar provas de elevado nível, incluindo etapas do Campeonato Nacional.

Mas a realidade de hoje é bem diferente. A pista foi desativada? se foi, São Miguel ficará órfã de um espaço permanente para a prática do motocross e, com isso, a modalidade perde o seu palco principal.

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Num cenário de incerteza e abandono da infraestrutura que um dia foi o orgulho da comunidade motorizada micaelense, é de louvar a iniciativa do Município de Vila Franca do Campo, que acolheu a segunda edição do evento “Vila Franca Motores” no início deste ano. Embora centrado em várias vertentes do desporto motorizado — com provas de ‘Automóveis Sprint’, ‘Autocross’, ‘Trial 4×4’, ‘Super Enduro’ e ‘Motos/Quad Sprint’ — este evento mostrou que, com vontade política e apoio logístico, é possível criar oportunidades para os atletas e dinamizar o espírito motorizado local.

É, pois, altura de se fazer uma reflexão séria e consequente: até quando vamos permitir que o motocross em São Miguel sobreviva apenas à custa da boa vontade de alguns? É urgente construir uma nova pista de motocross de raiz, moderna, segura e acessível. A ausência de um espaço dedicado à prática regular da modalidade compromete o futuro de muitos jovens pilotos e esvazia um património desportivo que tantos ajudaram a edificar.

O motocross micaelense é mais do que um desporto. É uma expressão cultural, uma ligação à terra, um motor de emoções e de comunidade. Que não se deixe cair no esquecimento todo o trabalho de figuras como José Leonardo Soares, Victor Rodrigues da SRMoto, e tantos outros que contribuíram para colocar São Miguel no mapa do motocross nacional.

Cabe agora às entidades competentes — câmaras municipais, governo regional e federação — assumir o compromisso de devolver à ilha um espaço digno para o motocross.

A paixão existe. O talento também. Só falta a vontade de investir num futuro que, para muitos, já começou há muito tempo.

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