A Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (OSPAR) aprovou oficialmente, na sua reunião ministerial realizada na semana passada em Vigo (Espanha), a proposta apresentada por Portugal, liderada pelo Governo Regional dos Açores, para a adoção do cagarro (Calonectris borealis) como bioindicador comum de poluição por plástico flutuante na Região V da OSPAR (Atlântico Alargado).
A iniciativa, coordenada pela Secretaria Regional do Mar e das Pescas, através da Direção Regional de Políticas Marítimas, contou com o apoio científico dos investigadores Yasmina Rodríguez e Christopher Pham, do Instituto OKEANOS da Universidade dos Açores. A proposta baseia-se nos resultados de um programa de monitorização iniciado em 2015, no âmbito da campanha de ciência-cidadã “SOS Cagarro”, amplamente reconhecida a nível internacional.
O novo indicador agora adotado permitirá avaliar a quantidade, composição e evolução do plástico ingerido por juvenis de cagarro encontrados mortos durante o período de saída dos ninhos. Esta metodologia vem colmatar a ausência da espécie Fulmar glacialis na Região V, ave usada como bioindicador noutras zonas de monitorização da OSPAR.
Entre as decisões tomadas, foi também aprovado um limiar de avaliação ambiental: no máximo, 20% dos juvenis analisados deverão conter mais de quatro partículas de plástico no estômago, com base numa amostra mínima de 200 aves ao longo de cinco anos consecutivos.
A adoção deste bioindicador representa um avanço estratégico na monitorização do lixo marinho no Atlântico, reforçando os compromissos estabelecidos na Estratégia Ambiental para o Atlântico Nordeste 2030 (NEAES 2030). A reunião ministerial de 2025 reafirmou o compromisso político dos países signatários da OSPAR com a ação climática, a conservação da biodiversidade e o combate à poluição marinha.
Este reconhecimento internacional do papel dos Açores é, segundo o Governo Regional, um sinal claro da capacidade científica, técnica e institucional da Região, que se assume como referência na proteção dos ecossistemas marinhos do Atlântico.
“A aprovação do cagarro como bioindicador comum não é apenas uma conquista científica. É uma contribuição concreta para a governança cooperativa dos oceanos, promovendo a colaboração entre regiões da Macaronésia, como os Açores, Madeira e Canárias, na luta contra a poluição por plásticos”, destacou a Secretaria Regional do Mar e das Pescas.
Através desta decisão, os Açores reforçam o seu papel ativo na construção de soluções inovadoras, sustentáveis e com impacto internacional, demonstrando o seu compromisso firme com a proteção do meio marinho e a sustentabilidade do Atlântico.