Pedro Fins e Mónica Seidi
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O Programa Regional para a Redução dos Comportamentos Aditivos e Dependências (PRRCAD) nos Açores, apresentado hoje, prevê um maior acompanhamento dos utentes após o tratamento, a criação de uma consulta de psiquiatria e uma maior articulação entre entidades.

“Percebemos que existem muitos utentes que já têm comorbilidades associadas com psicoses tóxicas que exigem um melhor acompanhamento e um maior acompanhamento na questão do internamento”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o diretor regional de Prevenção e Combate às Dependências dos Açores, Pedro Fins.

O novo programa, que vigora entre 2025 e 2030, foi hoje apresentado, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, no âmbito de uma iniciativa que junta os arquipélagos da Macaronésia, na partilha de conhecimentos de saúde mental e combate a comportamentos aditivos.

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Segundo Pedro Fins, o novo programa dá destaque ao consumo de drogas sintéticas, que tem maior incidência nos Açores e que afeta, sobretudo, a ilha de São Miguel.

O programa está dividido em cinco eixos: prevenção, dissuasão, tratamento, redução de riscos e minimização de danos e reinserção.

Uma das medidas previstas é a criação de uma consulta no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, tanto para diagnóstico, como para acompanhamento de utentes, após o tratamento em caso de psicoses tóxicas.

Questionado sobre se o número de psiquiatras no Serviço Regional de Saúde é suficiente para avançar com esta medida, o diretor regional disse que já existem quatro psiquiatras com formação em adictologia no HDES.

“Pelo menos, terá de haver alguma consulta de acompanhamento que neste momento não existe”, frisou, alegando que o objetivo é reduzir o risco de recaídas e de destabilização.

Pedro Fins adiantou que muitos utentes têm problemas de saúde mental associados aos consumos e, por isso, requerem um maior acompanhamento.

Em muitos casos, explicou, os utentes recorrem às urgências quando têm psicoses tóxicas, mas após o tratamento não são seguidos.

“Esses utentes com patologia dual vão ter de ser mais bem acompanhados, (…) havendo uma articulação com as equipas de rua, que têm contacto com esse público. A gente percebe que eles não vão aos hospitais, mas tem de haver aqui uma articulação com as entidades e com as respostas já instaladas, nomeadamente com a equipa de rua, favorecendo o encaminhamento destes utentes”, defendeu.

Segundo o diretor regional, é preciso também aumentar a duração dos internamentos, para garantir uma melhor estabilização.

“Tendo em conta que muitos deles têm algumas psicoses tóxicas instaladas, não é um internamento de curta e média duração que vai estabilizar este utente. Tem de ter um maior acompanhamento”, apontou.

Pedro Fins sublinhou que é preciso uma maior articulação entre as entidades de referenciação que acompanham estes utentes, como as associações Arrisca, Novo Dia e Alternativa, e as entidades que promovem a estabilização farmacêutica, como a Casa de Saúde de São Miguel.

“O utente não pode, como anteriormente acontecia, sair de uma casa de saúde, de um internamento de curta duração, com uma carta na mão e procurar uma das entidades. Isso não pode acontecer, porque eles não procuram”, salientou.

“A entrada tem de ser pelas entidades de referenciação, o utente vai estabilizar o seu quadro agudo numa casa de saúde, mas depois as entidades de referenciação têm de perguntar onde está o utente. Esta articulação não existia e tem de existir”, acrescentou.

Na Unidade de Saúde de Ilha de São Miguel já foi criado um ponto focal, que fará a articulação entre os médicos de medicina geral e familiar, que fazem o encaminhamento para tratamento, principalmente no caso do alcoolismo.

Também na área da prevenção, há um reforço de medidas, estando previstas, por exemplo, ações junto dos jovens sobre a problemática das drogas sintéticas.

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