Ainda cheira a fogueira de S. João, o Santo António já foi e logo virá o São Pedro e todos os santos com direito à devida celebração – foguetes, arraial, marchas, tourada e toda a sorte de alegria, porque sabemos, tristeza não paga dívida. Fosse esse o segredo para saldar o que a Fazenda Pública deve à banca, seguramente na secretaria das Finanças teríamos o político mais sorumbático da praça e o assunto acabava ali.
Acontece que em matéria orçamental não há santos e se porventura houver será impopular, por obrigar o devoto a jejum… na despesa. Não há milagres financeiros, mesmo quando, como é o caso, a reclamação brada aos céus. Afinal, todos ralham e poucos têm razão.
A despesa pública é grande, sabemos, e é fácil ficar do lado mais popular, quer dizer, entre a turba que aponta o dedo, reclamando medidas incisivas e melodiosas no ouvido, cirurgicamente retiradas de manuais que nunca leram (e menos ainda estudaram). Como qualquer boa conversa de café, ao virar da esquina, a teoria de pacotilha esfrangalha-se contra a realidade. São precisos mais professores, auxiliares, médicos, enfermeiros, mais apoios à cultura e ao desporto, transportes mais frequentes e baratos, isenções a esmo, gratuitidade aqui e acolá, sem olhar a quem, apoio à pesca e à agricultura, como também convém.
Na hora de aprovar o Orçamento, ninguém deve ficar de fora. Há muitas paróquias e fregueses para contentar na política de campanário, mas pelas razões opostas às invocadas por Herculano na célebre carta aos eleitores de Sintra.
Cortar na despesa, sim. Onde? Aí é que está o problema.