Em toda a ilha, a paixão pelo desporto é evidente em diversas modalidades e associações. Muitas destas organizações integram várias áreas desportivas sob o mesmo teto, o que exige uma boa dose de organização, planeamento e, acima de tudo, responsabilidade. Com o encerramento da presente época desportiva, é tempo de fazer um balanço — de refletir sobre o que correu bem, mas, principalmente, sobre o que ainda há por fazer.
Recordo que, na temporada passada, algumas associações foram a votos, resultando na eleição de direções com mandatos de quatro anos. O que mais me chamou a atenção foi o facto de a Associação de Patinagem de São Miguel (APSM), cuja direção foi eleita há apenas um ano, não ter apresentado na altura um manifesto eleitoral com metas claras. A ausência de um plano de ação público é, no mínimo, preocupante. Compreendo que recrutar pessoas para cargos de liderança é uma tarefa difícil, sobretudo num contexto em que a legislação de incompatibilidades impede ligações diretas aos clubes. No entanto, aceitar o desafio de liderar uma associação exige compromisso, imparcialidade e uma visão clara para o futuro da modalidade.
Alguns poderão argumentar que, sem dirigentes ligados aos clubes, não é possível formar uma direção. Mas será esse realmente o único caminho?
Outro ponto que merece atenção urgente é a presença digital da APSM. O site atual é antiquado, desorganizado e pouco funcional, não respondendo minimamente às exigências da patinagem moderna. A inexistência de links diretos, por exemplo, para cada modalidade — como hóquei em patins, patinagem artística, patinagem de velocidade e skate — dificulta o acesso à informação e reduz a visibilidade dessas disciplinas. As redes sociais, por si só, não substituem um verdadeiro arquivo digital, nem garantem uma divulgação consistente da atividade da associação.
Ao consultar os Estatutos da APSM, deparei-me com uma curiosidade: no artigo 5.º, o ponto 4 é seguido diretamente pelo ponto 6, sem qualquer referência ao ponto 5. Pode parecer um detalhe insignificante, mas são precisamente estas pequenas falhas que afetam a credibilidade e transparência das instituições. Mais preocupante é o facto de o Regulamento Interno não ter sido atualizado desde 2022, conforme indicado no próprio site. A evolução das modalidades exige regulamentos dinâmicos, atualizados e acessíveis.
E quanto à patinagem de velocidade e ao skate? Que medidas foram tomadas para dinamizar estas áreas? A justificação de que não existe uma pista específica para patinagem de velocidade em São Miguel não pode continuar a ser uma desculpa. Veja-se o exemplo da Madeira, onde os pavilhões são adaptados e, mesmo sem uma pista dedicada, formam-se campeões — até no gelo. No passado, São Miguel improvisou pistas e a modalidade prosperou. Por que não voltar a fazê-lo?
Relativamente ao skate, também não faltam motivos para agir. Já foram organizadas competições em São Miguel e várias autarquias investiram na construção de skate parks. No entanto, esses espaços estão hoje abandonados, devido à falta de promoção e dinamização da modalidade. Recordo que o livro “Bodas de Platina – Há 70 Anos” refere competições organizadas sob a égide da APSM em 2017 e 2018 — e, desde então, nada. Já passaram sete anos. A realidade é que o skate é uma modalidade de baixo custo, com muitos jovens praticantes. É fácil constatar que muitos estudantes levam os seus skates para a escola. Por que não trabalhar em conjunto com os estabelecimentos de ensino para incentivar esta prática no quotidiano dos jovens?
É certo que nem tudo foram falhas. Existem esforços pontuais, iniciativas bem-intencionadas e uma direção que, sem dúvida, deseja fazer o melhor possível. No entanto, é fundamental reconhecer que “o melhor possível” pode — e deve — ser mais ambicioso.
A patinagem em São Miguel merece mais. E quem a lidera tem a responsabilidade de lhe devolver o brilho, a organização e a projeção que outrora teve. O desporto, tal como a cidadania, constrói-se com visão, trabalho e transparência.