Todos os anos a cena repete-se. Melhor dizendo, de ano para ano o entusiasmo cresce na proporção inversa da necessidade e também, parece, das forças orçamentais. Falo dos pomposamente chamados festivais de verão que enxameiam os fins-de-semana ao redor das ilhas.
Não há concelho e lugarejo digno do seu nome que não exiba orgulhosamente uns concertos de música dos géneros mais em voga, no barómetro da popularidade vulgarmente coisa pouco requintada ou exigindo conhecimentos musicais que vão além de uma modesta escala. E nem ouso falar do eruditismo das letras de tais canções – em tempo de aniversário, poupemos o nosso Camões a mais reviravoltas na tumba.
O povo gosta, alegam os iluminados promotores. À boa maneira de Roma, faça-se-lhe a vontade, obviamente, na mira de uns vivas eleitorais, lá mais adiante.
No fim do estio o mesmo povo é chamado à urna e convém que a gratidão festivaleira aponte a cruz no lugar certo do boletim. Por essa altura ainda lhe hão de ressoar nas meninges os compassosquaternários deixados por imortais vedetas.
Outrora, quando o turismo era metade do que por aí vai, alegavam os promotores ser um contributo para a divulgação da terrinha, aquém e além-mar. Hoje, nada dizem em sua defesa. O eleitor habituou-se e isso basta para o evento alcançar estatuto de tradição, com jeito, adjetivado de cultural.
Quantos milhões são gastos em cachets,que voam para agências e empresários forasteiros? Ninguém sabe ou tão pouco se importa. Tristezas não pagam dívidas. As prioridades ficam para depois. Ou para nunca. O povo quer música. Aí a tem.