A ilha do Corvo foi a única a dar vitória ao PS nos Açores, nas eleições legislativas de domingo, e há quem entenda que a justificação pode estar num desentendimento entre PSD e PPM.
Para o antigo deputado do PSD José Manuel Nunes, residente na ilha, o resultado eleitoral foi uma fatura que o partido pagou por manter a coligação com o PPM, mas o líder regional monárquico, Paulo Estêvão, justifica a derrota com a falta de ações de campanha da coligação na ilha.
Segundo os resultados provisórios das eleições legislativas nacionais de domingo, a coligação PSD/CDS/PPM venceu no círculo eleitoral dos Açores, com 36,56% dos votos, elegendo três deputados, seguindo-se PS (23,6%), com um mandato, e Chega (22,85%), com um mandato também.
Num arquipélago pintado a laranja e azul, onde o Chega conseguiu mesmo vencer em dois concelhos, há um ponto a ocidente em que o rosa resistiu.
Na ilha do Corvo, a mais pequena dos Açores, com 363 inscritos e 242 votantes, o PS obteve 95 votos (39,26%) e a coligação ficou em segundo lugar com 66 (27,27%).
Por um voto a CDU (PCP/PEV) ultrapassou o Chega e ficou em terceiro lugar, com 24 votos (9,92%).
A justificação, neste caso, pode estar no nome escolhido pela CDU para encabeçar a lista pelo círculo eleitoral dos Açores. António Salgado Almeida foi médico na ilha do Corvo.
“O dr. Salgado é uma pessoa muito carismática, uma pessoa muito querida na ilha do Corvo e esse resultado não se deveu à CDU, mas à forma como dr. Salgado lidou com a sua profissão enquanto cá esteve”, defendeu, em declarações à Lusa, José Manuel Nunes.
Quanto à vitória do PS, não surpreendeu o antigo deputado social-democrata, que disse já ter chamado à atenção do líder regional do partido e presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, para as linhas que o PSD deveria seguir na ilha.
“O senhor presidente do PSD/Açores não deu a atenção que deveria ter dado e a fatura está aí. É este o resultado e será assim no futuro”, afirmou.
“Se as coisas não mudarem, o PSD está sujeito a desaparecer, assim como o PPM também já está a começar a desaparecer no Corvo. Isto, neste momento, está a favorecer o PS”, acrescentou.
Segundo José Manuel Nunes, o PSD do Corvo não aprova a coligação com o PPM e já decidiu que não vai apresentar candidatura às eleições autárquicas.
“A coligação não faz sentido algum. Não há a mínima hipótese de entendimento. Penso que houve muita ganância por parte do PPM, que quis tomar conta de tudo e de todos, quis tomar todas as decisões. E os militantes do PSD não estão aqui apenas para aguentar a bandeira no ar e colar cartazes quando chegam as eleições”, rematou.
O líder regional do PPM e membro do Governo Regional, Paulo Estêvão, residente na ilha do Corvo, encontra, no entanto, outras explicações para o resultado eleitoral.
“Eu penso que teve a ver com o facto de eu não ter conseguido chegar a tempo de fazer campanha. Estive a fazer campanha a nível nacional, a percorrer todo o país, e tinha previsto conseguir chegar ainda no fim da semana, mas não foi possível”, apontou.
“É a primeira vez em 25 anos que não participei numa campanha na ilha do Corvo. Sem estar a querer ser egocêntrico, penso que isso foi decisivo”, acrescentou.
Nem o PPM fez campanha no Corvo, nem o cabeça de lista da coligação pelo círculo eleitoral dos Açores, Paulo Moniz, que se viu impedido de chegar à ilha devido às condições meteorológicas, explicou Paulo Estêvão.
Questionado sobre um alegado mal-estar entre PSD e PPM no Corvo, o líder regional monárquico recusou comentar “a vida interna dos outros partidos”.
“Nós fazemos a nossa parte e a nossa parte é fortalecer a coligação e fazer tudo para a que a coligação tenha êxito na Região Autónoma dos Açores”, frisou.
Paulo Estêvão lembrou que, em 2024, em três eleições, a coligação venceu duas no Corvo e rejeitou que este resultado possa ter influência nas eleições autárquicas, em que o PPM concorre sozinho na ilha.
“Para as autárquicas não existe um acordo, portanto cada partido concorre isoladamente. Vamos ter oportunidade de convergir com o PSD noutras ilhas, por exemplo na ilha do Faial. Dependerá de concelho para concelho”, avançou.
Já o secretário-coordenador do PS/Corvo, Lubélio Mendonça, desvalorizou a vitória do partido na ilha.
“Não foi nada de especial este resultado. O Partido Socialista é um partido grande e se nós perdemos a nível regional e nacional, também perdemos no Corvo. O nosso objetivo é ganhar tudo, não é ter vitórias aqui e acolá”, afirmou.
Lubélio Mendonça, que também é deputado regional do PS, disse que o partido vai refletir e “corrigir o que há a corrigir” para partir para as próximas eleições, mas defendeu que as pessoas “sabem fazer a separação” entre os diferentes atos eleitorais.