18 de maio de 2025: a noite em que Portugal virou à direita, mas acordou sem saber o que esperar. A Aliança Democrática venceu, sim, mas não convenceu. E o Partido Socialista sofreu uma das piores humilhações da sua história: perdeu a possibilidade de governar, perdeu, em princípio, o segundo lugar, e perdeu o pulso ao país. Pela primeira vez na história democrática, é previsível que seja ultrapassado pelo Chega.

Luís Montenegro conquistou a vitória, mas não a maioria necessária para governar sem constrangimentos. Vai governar com uma margem curta, sem acordos firmes e com um Parlamento transformado num campo minado. A Iniciativa Liberal ajuda pouco. PAN, Livre, Bloco, PCP e JPP não são aliados naturais. Cada dia será uma prova de resistência.

Pior: à sua direita, André Ventura cresceu como nunca. O Chega passou a indispensável. Será, previsivelmente, a segunda força política nacional. Não governa, mas dita o ritmo, a agenda e o tom. Montenegro jura que não cede. Mas até quando? A linha vermelha começa a parecer uma cerca de papel.

À esquerda, o PS tenta disfarçar o colapso. Pedro Nuno Santos demite-se, mas perdeu tudo: o governo, a hegemonia, e a confiança de muitos eleitores. A derrota foi ruidosa, e a ferida, profunda. O partido vai ter de se reinventar, ou arrisca-se a definhar e a tornar-se irrelevante.

No meio deste cenário, o país entra numa nova era: a da instabilidade crónica. A AD pode tentar governar com medidas avulsas, gestos simbólicos e pequenas vitórias. Mas Portugal não precisa de cosmética ou operações de charme, precisa de soluções. Habitação, saúde, economia, educação e justiça: os problemas são reais e urgentes.

Montenegro tem uma escolha difícil pela frente: resistir com princípios ou ceder à pressão. Se não conseguir gerar consensos, o país mergulhará num ciclo de eleições, tensões e frustração. A vitória foi dele — mas o tempo corre a favor dos que gritam mais alto.

Portugal virou à direita, mas ficou sem rumo claro. A AD ganhou — mas ganhou o quê?

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