A empresa Eletricidade dos Açores (EDA) apresentou hoje uma nova proposta de aumentos salariais, de 3,5%, e os sindicatos, que reivindicavam 4,7%, vão auscultar os associados, mas mantém-se em cima da mesa a possibilidade de greve.
“Como estamos comprometidos a fazer uma negociação responsável, que valorize os nossos trabalhadores, mas não ponha em causa a estabilidade financeira da empresa para o futuro, que é a única forma de salvaguardarmos todos os postos de trabalho, apresentámos uma nova proposta às estruturas sindicais”, afirmou, em declarações à Lusa, o presidente da EDA, Paulo André, que se reuniu hoje com os dirigentes sindicais.
Os trabalhadores já saíram à rua, em manifestações, por duas vezes, por aumentos salariais.
Numa fase inicial, as propostas dos diferentes sindicatos oscilavam entre 5 e 10%, mas neste momento os trabalhadores reivindicam um aumento salarial de 4,7%, com um valor mínimo de 53 euros mensais.
A empresa, que propunha inicialmente um aumento de 2,03%, subiu para 2,5% e hoje apresentou uma “última proposta” de 3,5%, com um valor mínimo garantido de 47 euros mensais.
“É um esforço significativo da empresa. Este esforço representa só pela valorização mais 1,2 milhões de euros por ano de custos à empresa”, salientou Paulo André.
O conselho de administração aguarda até ao final desta semana por uma resposta das estruturas sindicais, que vão auscultar os trabalhadores.
Em cima da mesa está, no entanto, a possibilidade de haver uma greve às horas extraordinárias e às deslocações, a partir do dia 02 de junho.
“Entendemos que há espaço para chegarmos a um entendimento com as estruturas sindicais. Vamos aguardar, com serenidade, pelo resultado da auscultação aos associados”, apontou o presidente da EDA.
Segundo Paulo André, este é o valor limite que a EDA pode apresentar, até porque é uma empresa regulada e abrangida pelo mecanismo de compensação tarifária.
“Estamos sujeitos a fatores de eficiência, por parte da entidade reguladora, que se não forem cumpridos, os nossos sobrecustos não são totalmente cobertos. A rubrica de custos com pessoal é uma das rubricas onde o regulador não aceita a totalidade dos seus custos já atualmente”, explicou.
Questionado sobre o facto de os trabalhadores da EDA auferirem salários mais baixos dos que os praticados nas empresas de eletricidade do continente e da Madeira, como alegam os trabalhadores, o presidente da empresa disse que é preciso ter “algum cuidado na comparação”.
“Não nos podemos comparar a uma empresa que opera no território nacional. A EDP é uma empresa diferente da EDA, é uma empresa internacional e opera em vários mercados, tem vários negócios, opera tanto no mercado regulado, como no mercado livre. São dinâmicas diferentes das registadas nos Açores”, frisou, alegando que na comparação com o tecido empresarial regional “a conclusão não é a mesma”.
O dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e da Energia (SINDEL) António Melo disse que “houve uma aproximação” da empresa, mas que serão os associados a decidir se “aceitam ou não a proposta da EDA”.
Um dos pontos que continuam a gerar insatisfação do sindicato é o valor mínimo de aumento abaixo dos 53 euros, que representam o aumento do salário mínimo regional nos Açores.
“Acho que ninguém percebe, nem os nossos clientes que estão a assistir a este conflito, que não se atribua este valor, numa empresa que tem resultados positivos”, apontou.
“Numa greve todos perdem. Não queremos, mas se tiver de ser será”, acrescentou.
Também o coordenador do Sindicato das Indústrias Elétricas do Sul e Ilhas (SIESI) Rui Medeiros adiantou que “os sócios serão soberanos relativamente à decisão”, mas considerou que a proposta ficou “longe do que era pretendido”.
Segundo o sindicalista, o aumento de 4,7% seria “minimamente justo”, atendendo às perdas que os trabalhadores têm tido nos últimos anos e à necessidade de recuperarem algum vencimento.
“O mínimo de 53 euros foi a subida do ordenado mínimo regional. Não assegurando este mínimo, os trabalhadores da EDA com os salários mais baixos vão-se aproximar ainda mais da remuneração mínima regional, o que não é admissível na empresa de Eletricidade dos Açores”, sublinhou.