A história conta-se em poucas palavras. Chegou-me através de um familiar e na boa tradição da transmissão oral, o que em nada diminui a veracidade e importância dos factos relatados. Afinal, as fontes orais valem tanto como as documentais, desde que devidamente validadas. E neste caso, não se objetivando um fim científico, mais à-vontade fico para relatar o que ouvi, já lá vão umas décadas.
Um moçoilo de um povoado rural, em idade casadoira, aproveitava os arraiais das festas religiosas para tentar a sua sorte na arte do amor, talvez, digo eu, fazendo fé num possível milagre do santo celebrado. Sem grandes dotes físicos, facilmente percetíveis, o jovem optava por evidenciar posses económicas que pudessem despertar o interesse do sexo oposto. Fazia-o sem grande descrição, pelo contrário, exibindo sonoramente uma algibeira cheia de dinheiro, como poucos podiam garantir entre a música e os clamores próprios do arraial. Como? Tilintando farta quantia de moedas que orgulhosamente agitava nos bolsos.
Mas a estratégia do José acabou descoberta pelos rapazes da freguesia. O segredo era trocar dois míseros escudos na moeda mais pequena emitida pelo Banco de Portugal – 10 centavos, ou serrilha, como popularmente era designada por aquelas bandas. E mais depressa ganhou a alcunha do que mulher para fazer família.
Durante a campanha eleitoral, que termina já amanhã, muitas vezes julguei estar em presença do José Serrilha: os candidatos insinuam dinheiro com fartura, suscetível de atender a tudo e a todos.
Só por imprudência ou paixão de arraial nos deixaremos convencer.