Quando no dia 1 de maio de 2020 o Correio dos Açores completou o seu primeiro centenário, foi publicada uma edição comemorativa com vários contributos reunidos num caderno com a capa: “Correio dos Açores um Século”, que constitui um documento histórico de leitura obrigatória para investigadores e mesmo leitores, naturalmente este documento deve estar devidamente arquivado na nossa Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, e para consulta pública. Nesta edição especial é possível ler o contexto em que foi criado o Correio dos Açores, quem foram e o que pensavam os seus promotores, as diferentes fases porque passou até chegar ao presente, os seus principais protagonistas, os temas mais relevantes que constituem o seu ADN, a sua linha editorial, o pluralismo que sempre abraçou, as causas regionalistas, autonomistas e inclusivamente as que defendiam e defendem soluções mais avançadas para a governação dos Açores.
Mas também nesta publicação histórica é possível identificar as dificuldades porque passam atualmente os OCS e em especial a imprensa escrita, com relevância para o aumento dos custos de produção, com destaque para os preços das máquinas e equipamentos, do custo do papel, da pequena dimensão e dispersão do mercado, que impedem economias de escala nos Açores e a consequente diminuição dos custos de produção unitários, redações com recursos humanos limitados, que dificultam sobremaneira a cobertura de eventos e produção autónoma de notícias, já para não falar no jornalismo de investigação, colocando os jornais numa excessiva dependência das Agências Noticiosas, e de outras formas de produção de notícias menos “clássicas”, a que acresce a concorrência feroz das redes sociais, em comparação com os pesados custos de distribuição dos jornais e a maior dificuldade na sua acessibilidade pelos leitores.
Estão perfeitamente identificadas as restrições porque passam os jornais, sobretudo em mercados insulares como o nosso, sendo assim, também foi possível na publicação dos 100 Anos do Correio dos Açores, ter vários contributos avançando com propostas para mitigar as dificuldades porque passa a imprensa escrita e mesmo outros OCS dos Açores, tendo sempre como desígnio de que não existe Democracia sem imprensa livre e independente, e compete aos Órgãos de Governo Próprio Democráticos encontrarem os instrumentos legais, transparentes e suficientemente equilibrados para não deixarem morrer a imprensa e as outras formas reguladas de produzir e informar as populações.
Apoios à formação profissional, programas públicos de incentivos à renovação de máquinas e equipamentos, apoios regulados à distribuição, comparticipação financeira no acesso de notícias das Agências Noticiosas certificadas, programas de apoios à aquisição de jornais por públicos e instituições devidamente identificadas e fixadas em lei, etc, são medidas que já foram ensaiadas em outras Regiões e Países da União Europeia, sendo que os jornais devem ter também apoios específicos da UE, e envolvendo os nossos Deputados que nos representam no Parlamento Europeu. Naturalmente que a sociedade civil, os gestores e os colaboradores dos OCS também tem as suas responsabilidades próprias na produção e condução das empresas e tem a obrigação de as gerir exemplarmente, sabendo que este setor da comunicação social tem especificidades próprias.
O Correio dos Açores no Aniversário destes 105 anos tem a seu crédito ser um jornal que abre as suas páginas aos temas mais diversificados, publica opinião pluralista, é um defensor das causas da Autonomia, e está sempre pronto a corrigir os seus erros, quem nunca errou “que atire a primeira pedra”. É um jornal que faz falta aos Açores.
Por estes dias a humanidade viu partir deste mundo um Homem Bom, o nosso Papa Francisco, um Papa “que foram buscar ao fim do mundo”, que marcou o seu pontificado, por ações práticas, encíclicas, exortações apostólicas, cartas apostólicas, viagens apostólicas criteriosamente escolhidas, que jamais serão esquecidas e foram mesmo uma lufada de ar fresco, na forma como este Bispo de Roma se relacionou com os católicos e mesmo com as outras confissões religiosas. O Papa Francisco foi um Líder que se afirmou pela proximidade, e colocar na Agenda temas que são fraturantes e feridas graves do nosso tempo, como sejam: a pobreza, os sem abrigo, a forma egoísta e irresponsável como tratam o meio ambiente, as dependências, a prepotência dos mais fortes, a guerra que destrói e mata, quase sempre os mais fracos e pobres, o abuso sexual de menores, incluindo no seio da própria igreja, não exitando admitir que tinha errado na avaliação que fez sobre este flagelo, a exploração e a violência contra as mulheres. Tudo situações que um jornalismo independente e livre tem o dever de tratar responsavelmente e com o objetivo de denunciar e contribuir para corrigir estas injustiças.
Finalmente, os meus parabéns para os acionistas, direção e colaboradores do Correio dos Açores e uma palavra de incentivo para prosseguirem esta Missão de tudo fazerem para informarem os açorianos com liberdade e qualidade.