Os constrangimentos no funcionamento do HDES, resultantes do incêndio, provocaram um aumento da mortalidade? Não creio, pelas razões estatísticas que adiante aponto. Pelo contrário, o meu amigo eng. João Mota Vieira, coautor do relatório sobre aquele incidente, encontrou um nexo de causalidade. Precipitadamente, julgo, a avaliar pelos números do Sistema de Informação de Certificados de Óbito, do Ministério da Saúde, que me suportam.
Em 2024, a mortalidade aumentou em S. Miguel mais 181 óbitos relativamente ao ano anterior. Ficar por aqui sustentaria a hipótese da correlação. Recomendam, porém, as regras da análise demográfica, e do bom-senso, que se observem mais dados.
Recuando um pouco, logo identificamos informação pertinente para uma possível negação da dita hipótese. Por três evidências. 1) Em números absolutos, em 2022 registaram-se mais 103 óbitos em S. Miguel do que no ano passado (1.342 em 2022, 1.239 em 2024). 2) E o mesmo se verifica em relação ao ano imediatamente anterior: mais 273 óbitos, bastante superior ao acréscimo de 181 ocorridos no ano do incêndio. 3) Atento o registo de óbitos entre 5 de maio e 31 de dezembro daqueles dois anos o resultado é idêntico, ou seja, em 2022 a mortalidade foi superior à verificada no ano passado. E o mesmo aconteceu no conjunto da Região.
Qual a explicação, então, para estes dados? Em 2022 não colapsou nenhum serviço de saúde em S. Miguel…. Portanto, será legítimo concluir que outros fatores influenciaram a mortalidade, em nada relacionados com a ocorrência no maior hospital regional.