O Presidente do Governo dos Açores, participou esta terça-feira na XXIX Conferência dos Presidentes das Regiões Ultraperiféricas da União Europeia (RUP), que decorreu em Saint-Denis, na ilha da Reunião. Na ocasião, deixou um apelo direto a Bruxelas: “é preciso que a União Europeia olhe para estas regiões com mais atenção, mais sensibilidade e mais compromisso político e financeiro”.
José Manuel Bolieiro sublinhou o papel geoestratégico das RUP, que, apesar da distância em relação ao centro da Europa, são, segundo disse, “pontes entre continentes, culturas e mercados”. No seu discurso, criticou o que considerou ser uma recentralização das decisões europeias, que tende a ignorar as especificidades locais, e alertou para os riscos de marginalização das regiões mais afastadas do continente. “A coesão territorial não é negociável”, vincou.
Num contexto global marcado por conflitos, instabilidade geopolítica, inflação e desafios ambientais, o líder açoriano defendeu que as RUP devem ter um papel ativo na definição das prioridades europeias. Nesse sentido, apelou a que a coesão territorial se mantenha como um pilar essencial da integração europeia, sobretudo no próximo Quadro Financeiro Plurianual. “A Europa joga muito do seu futuro nas suas regiões mais distantes”, declarou.
Entre as propostas apresentadas, José Manuel Bolieiro destacou a criação de um novo programa POSEI-Transportes, com o objetivo de melhorar a eficiência e acessibilidade das ligações aéreas e marítimas. Referindo-se à realidade arquipelágica dos Açores, o governante frisou: “a dupla insularidade e as condições atmosféricas são realidades incontornáveis. Precisamos de soluções estruturais, não paliativos”.
A agricultura e a pesca também mereceram destaque na intervenção de Bolieiro, que apelou ao reforço do orçamento do POSEI-Agricultura e à reativação do POSEI-Pescas. Defendeu ainda a modernização das frotas pesqueiras com financiamento europeu, evitando disparidades entre regiões. “A agricultura e a pesca são muito mais do que setores económicos. São o coração das nossas comunidades”, afirmou.
O Presidente do Governo Regional abordou também a transição energética e digital, defendendo uma aposta clara em novas economias emergentes como a economia azul, a biotecnologia marinha e as energias renováveis. Voltou ainda a sublinhar a urgência de garantir melhor conectividade digital nas RUP. “A distância não pode continuar a ser um obstáculo. Precisamos de redes digitais mais seguras e eficientes”, reforçou.
A conferência terminou com a assinatura de uma declaração conjunta das nove RUP, que exige um tratamento específico no próximo quadro financeiro da UE. O documento pede mais flexibilidade e investimento em áreas como transportes, agricultura, habitação acessível, competitividade e resposta à imigração e alterações climáticas. Bolieiro encerrou a sua participação com uma palavra de reconhecimento à Reunião e um apelo à união: “não pedimos privilégios, pedimos justiça. Porque não há Europa coesa sem as suas Regiões Ultraperiféricas”.