Mais de 200 pessoas assinaram o Manifesto contra a Legalização da Sorte de Varas nos Açores, apresentado hoje, em Angra do Heroísmo, para alertar a opinião pública e tentar desmobilizar uma nova tentativa de legalização.
“Muitas são as vozes, de todos os quadrantes da sociedade, mesmo entre os aficionados, que se têm posicionado contra esta prática de crueldade extrema para com o touro, proibida em todo o país e que não se reveste, nas nossas ilhas, de qualquer caráter cultural, tradicional ou identitário”, lê-se no manifesto.
O antigo deputado regional do PCP Aníbal Pires é o porta-voz do movimento, que apresentou hoje o manifesto na livraria Lar Doce Livro, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
No final de janeiro, no IV Fórum Mundial da Cultura Taurina, o antigo presidente da Tertúlia Tauromáquica José Parreira defendeu a legalização na região da sorte de varas, em que os touros são picados, e o secretário regional da Agricultura e Alimentação (PSD/CDS/PPM), António Ventura, desafiou a Tertúlia a tentar que a sorte de varas seja discutida no parlamento, alegando que a sua composição atual, com oito partidos e sem uma maioria absoluta, “pode ser uma vantagem”.
“Não vai ser uma tarefa fácil, teremos de fechar os ouvidos e os olhos a muitos ataques, mas nos Açores mandam os açorianos e mandam através do seu parlamento regional”, afirmou.
As declarações geraram a contestação de várias associações e movimentos e deram origem a uma petição, que conta com mais de 2000 assinaturas.
Segundo Aníbal Pires, o manifesto “surgiu de forma espontânea e não tem ligação com nenhuma organização”, sendo assinado por pessoas de vários quadrantes da sociedade, incluindo por aficionados.
“Este manifesto não é contra as touradas de praça, nem contra as touradas à corda. O manifesto é tão somente contra qualquer tentativa, venha ela de onde vier, de legalização da sorte de varas nos Açores”, adiantou.
O documento, disponível na internet, já foi assinado por “mais de 200 pessoas”. O objetivo não será enviá-lo ao parlamento açoriano, mas “manter a opinião pública alerta”.
O porta-voz do movimento disse estar convencido de que a maioria dos açorianos não concorda com a legalização da sorte de varas, por isso desafiou o secretário da Agricultura “a propor um referendo regional”.
Defendeu, por outro lado, que o presidente do executivo açoriano deveria “fazer um reparo pela forma leviana como o secretário regional fez as declarações que são do domínio público”.
“Eu julgo que o secretário regional da Agricultura, no calor do contexto em que proferiu as declarações que são conhecidas, não teve tempo para refletir, porque o Governo Regional do qual ele faz parte não tem uma posição sobre o assunto. Não é conhecida nos programas dos partidos qualquer intenção da legalização da sorte de varas”, salientou.
Aníbal Pires era deputado à Assembleia Legislativa dos Açores, em 2009, quando foi votada a mais recente proposta sobre a legalização da sorte de varas nos Açores, que acabou por ser rejeitada com 28 votos contra, 26 a favor e duas abstenções.
O antigo deputado do PCP lembrou, no entanto, que já em 2002 tinha sido aprovada uma proposta, que foi travada pelo Tribunal Constitucional.
Segundo Aníbal Pires, em 2015, “correram rumores nos corredores da Assembleia Legislativa de que alguns deputados estavam a preparar uma iniciativa parlamentar” para legalizar a sorte de varas, mas a intenção “esfumou-se”, depois de ter surgido um manifesto semelhante ao que foi agora apresentado.
“Não terminaremos por aqui, vamos continuar a aceitar subscritores e, sobretudo, vamos manter-nos alerta”, vincou.
O subscritor alertou para o impacto que a legalização da sorte de varas poderia ter na imagem do arquipélago, como destino de turismo sustentável e de natureza.
“Uma situação destas mancharia claramente a imagem dos Açores e, se é verdade que poderia atrair um pequeno segmento de turistas, certamente que afastaria um setor muito mais alargado a procurar este destino”, apontou.