O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) apelou hoje à oposição da sociedade a uma nova tentativa de legalização da sorte de varas na região e pediu a demissão do secretário regional da Agricultura.
“O MCATA apela ao envolvimento de todas as pessoas em ações de oposição às sucessivas tentativas de legalizar a sorte de varas, prática bárbara que não tem espaço numa civilização decente e que constitui um notório atentado à integridade física dos animais e uma atitude que indica um retrocesso legislativo, político, moral e civilizacional que manchará a imagem dos Açores a nível nacional e internacional”, lê-se num comunicado do movimento, enviado hoje.
Na sexta-feira, na sessão de abertura do IV Fórum Mundial da Cultura Taurina, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, o antigo presidente da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e membro da comissão organizadora do fórum José Parreira defendeu a legalização na região da sorte de varas, em que os touros são picados.
“Queremos afirmar aqui hoje que o tema jamais foi esquecido e que na altura devida voltaremos a incomodar os nossos representantes com aquilo que para nós é uma prática essencial. É pela reposição da sorte de varas que recomeçaremos a ganhar o futuro”, adiantou.
Na reação, o secretário regional da Agricultura e Alimentação (PSD/CDS/PPM), António Ventura, desafiou a Tertúlia Tauromáquica Terceirense a voltar a sondar a possibilidade de a sorte de varas ser discutida no parlamento, alegando que a arquitetura atual, com oito partidos e sem uma maioria absoluta, “pode ser uma vantagem”.
“Não vai ser uma tarefa fácil, teremos de fechar os ouvidos e os olhos a muitos ataques, mas nos Açores mandam os açorianos e mandam através do seu parlamento regional, primeiro órgão da nossa soberania”, afirmou.
Em 2009, já tinha sido apresentada uma proposta para legalizar a sorte de varas no parlamento açoriano, mas a iniciativa foi chumbada com 28 votos contra e 26 a favor.
O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores acusou o secretário regional de incoerência por se apresentar “como paladino da defesa do bem-estar animal” e, ao mesmo tempo, considerar a composição atual da Assembleia Legislativa vantajosa para a legalização de uma “prática sanguinária”.
O MCATA considerou ainda que a afirmação do titular da pasta da Agricultura, que defendeu, na sessão de abertura do fórum, que a tourada era “a melhor escola de cidadania”, é “insultuosa para todos os pais e mães, docentes e demais pessoas envolvidas em atividades educativas”.
“António Ventura não tem condições para continuar a chefiar uma secretaria regional, pois por mais de uma vez demonstrou a sua ignorância e insensatez”, vincou.
O movimento manifestou “muita apreensão” com a possibilidade de legalização da sorte de varas, que considerou um “retrocesso gritante em relação à proteção dos animais”.
“Não satisfeitos com a barbaridade que são as touradas, nomeadamente as de praça, os inimigos do bem-estar animal, dos direitos dos animais e dos direitos humanos pretendem que o sofrimento animal seja levado ao extremo, através da legalização das touradas picadas ou sorte de varas, prática destinada a violentar o animal através de vários ataques com uma lança que o levam a perder até um terço do seu sangue”, sublinhou.
A discussão em torno da possibilidade de legalização da sorte de varas motivou críticas dos deputados do BE e do PAN na Assembleia Legislativa dos Açores.
A Associação Vegana dos Açores lançou uma petição pública a apelar a que uma eventual proposta de legalização da sorte de varas “não tenha o parecer positivo” dos vários partidos que compõem a Assembleia Legislativa dos Açores, que conta com mais de 900 assinaturas.