Na semana passada, a extrema-direita, sempre disponível para declarações sensacionalistas, tentou fazer notícia, afirmando que há cerca de 300 professores e 200 assistentes operacionais de baixa há mais de um mês. Como nunca se deixam atrapalhar pela realidade, não procuraram saber como é a vida nas Escolas.

Preferiram não saber que isso corresponde apenas a 6% dos Docentes dos Açores, que 2500 Professores têm mais de 50 anos e que 900 têm mais de 60 anos. Preferiram não saber que as condições de trabalho são fatores graves de doença. Preferiram não saber que, há 6 anos, 50% dos Docentes acusava sintomas graves de burnout e 25% sintomas muito graves. Hoje, a realidade será pior, porque, entretanto, todos têm mais 6 anos. Se a extrema-direita quisesse conhecer a realidade, poderia apresentar centenas de casos que, em cada dia, vão trabalhar doentes, muitas vezes até ao extremo, por não quererem abandonar os seus Alunos e por saberem não haver quem os substitua.

Quanto aos Funcionários das Escolas, a situação é semelhante. Décadas a fazer todo o serviço que for necessário. Ruído permanente, transportar mobília, tentar impor alguma ordem em Crianças e Adolescentes em que sobra energia, quando a mesma falta aos próprios. Entretanto, aprenderam o milagre da multiplicação: quando, numa escola, faltam 5 Funcionários, há outros 5 que duplicam o seu trabalho. Ao longo de milhares de dias de trabalho, os ossos, os músculos e o cérebro acusam o desgaste e o cansaço, só vencidos pela teimosia e pela dedicação à Escola e aos Alunos.

A extrema-direita afirma conhecer casos de baixas fraudulentas, mas não os denuncia. Preferem deixar a acusação no ar, porque dá mais jeito para garantir a atenção mediática. E assim, feitos cavalo de Troia, lá vão destruindo as fundações de qualquer sociedade humanizada. Desta vez, preferiram atacar a Escola Pública dos Açores, contribuindo para afastar jovens da profissão e para denegrir a imagem social dos Professores. Mais tarde, quando der jeito, lá farão alguma declaração inflamada a dizer que é preciso devolver-lhes a autoridade, depois de eles próprios terem ajudado a miná-la.

Entretanto, o governo regional e a coligação que o apoia continuam sem responder a uma questão essencial: como é que se valoriza e defende a democracia e os direitos humanos, dando importância a quem os ataca todos os dias?

PUB