Alexandra Manes

Eram onze da manhã, mais coisa menos coisa, no dia 28 de novembro quando o funcionário do partido de André Ventura nos Açores pediu a palavra para fazer uma declaração prévia à votação da especialidade do Orçamento para a Região Autónoma dos Açores. Foi um dia de sol e chuva, muito revelador da situação atual no nosso arquipélago, e de uma assembleia cada vez mais assustadoramente medíocre. A principal responsabilidade dessa mediocridade é, efetivamente, da parte do partido do senhor Ventura, e parte da boca de quem o representa a nível regional. Mesmo que não sejam os únicos, conforme já tive oportunidade de referir. A coisa não anda nada bem. São tempos de populistas e reacionários.

O deputado Pacheco é o atual mandatário principal do tal partido, e é dele que parte uma postura verdadeiramente assustadora que algumas pessoas poderão classificar como boçal, apesar de eu não entrar nessa troca de infelizes impropérios, que é tantas vezes promovida por ele mesmo. Todavia, não será exagero classificar o nível das suas intervenções políticas como sendo de uma qualidade muito, muito fraca. É preciso fazer um esforço para não cair no erro de entrar no bate-boca tão desejado por mentes sem capacidade para argumentar, a não ser ao toque do grito e do insulto. Mas, se o fizermos, verificamos que aquele partido é de uma evidente pobreza essencialmente de ideias. As medidas defendidas pelo partido são apenas fogo de vista, para criar gabinetes vazios e arranjar desculpas para estar ali, a gritar e a criar conteúdo para os vídeos que vão depois publicar nas suas redes sociais. É assim que vão conquistando votos, porque saltaram fora do sério, do digno e do qualificável como sendo parte de uma sociedade honrada.

No debate para o Orçamento, o Sr. Deputado Pacheco avançou com uma intervenção degradante para a qualidade do nosso debate democrático, chamando ao assunto expressões que não seriam dignas de serem ditas numa discussão de arruaceiros, quanto mais na casa que deveria ser entendida como a da nossa liberdade. Já dias antes, o deputado tinha feito um discurso repleto de inverdades e tristes sentimentos acerca da celebração do 25 de novembro, que mais tarde foi muito bem dissecado pelos docentes Albano Gomes e António Machado.

É disso que se alimentam. De uma imaginária chucha que lhes dá ânimo e lhes cura as birras, sustentada por infantis frases que querem provocar apenas reações sem racionalidade. Tudo o que o Sr. Deputado Pacheco disse nas várias intervenções que se seguiram poderia bem ser resumido a uma conversa de recreio na escola primária, ou nas tais creches que dizem defender, mas querem controlar.

Recordemos, então, o que esteve em jogo. Para aprovar o Orçamento para 2025, o Governo Regional dos Açores, e os partidos que o sustentam, foram obrigados a dar a mão ao chega. Porque não quiseram ouvir as outras bancadas, diga-se de passagem. Mas foram obrigados a fazer uma aliança com a tal decadência parlamentar que aquelas pessoas promovem e incentivam. A coligação dos Açores tornou-se assim uma importante aliada para a destruição da democracia que está em curso. E isso verificou-se, desde logo, no apoio que foi concedido à questão das creches.

O deputado Pacheco sublinhou, aos berros e da forma mais acintosa que alguma vez se tinha visto num debate do género. Para o seu partido, as creches são um assunto ideológico. Diz que o PS as encheu de pessoas do seu eleitorado. Não é de crianças que fala. Para ele, e para os seus, as crianças só servem para convencer os paizinhos, com mentiras, populismos e gritos. Não lhes importam que estejam a promover a possibilidade de crianças passarem fome, ou de sofrerem ainda mais com a sua vida Doméstica. E diga-se que continuo perplexa com o silêncio da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens relativamente a esta matéria.

Para Ventura, e para os seus funcionários, vale tudo. Incluindo ameaças, como ficou claro com a citação de Jaime Neves que ele proferiu durante a cerimónia solene da AD e dos seus parceiros, em Lisboa, durante o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, que Montenegro não reconhece.

Por cá, o deputado Pacheco terminou a sua pantominice com uma referência às questões das subvenções partidárias, atacando os adversários políticos, do auge do seu salário de deputado e dos muitos milhões que o seu partido também recebe da parte desse regimento parlamentar. Resta saber se o dinheiro que o Chega ganha das subvenções vai ser empregue nas pessoas que diz apoiar, como fazem alguns partidos, ou se vai servir os bolsos dos grandes empresários que lhes dão de comer. Talvez fosse bom falar nisso ao famoso gabinete anticorrupção e verificar os assuntos de algumas empresas
locais. Só pelo sim, pelo não.

Termino dando nota de que Bolieiro perdeu a hipótese de nos provar que não está ali pela sede de poder, pois poderia ter negociado com o PS que, desde cedo, se disponibilizou para tal, mas preferiu dar uma chucha ao chega do que medidas concretas para a Região; da coragem de Duarte Freitas intervir sabendo da situação económica (vulgo dívida pública) dos Açores; e de Nuno Barata que, na sua intervenção, resumiu o Governo “…porém nem as camionetas conseguiram pôr a trabalhar, mas querem ir para o espaço. Andam mesmo com a cabeça na lua.”.

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