Como qualquer outra, a guerra na Ucrânia nunca devia ter começado. Como qualquer outra, depois de iniciada, todos os esforços deviam ter sido para terminar a morte, a destruição e o sofrimento o mais depressa possível. Não foi esse o caminho escolhido e é cada vez mais evidente que os alertas do PCP tinham razão de ser.
Vem isto a propósito da recente escalada na guerra, mas, sobretudo, da entrevista dada pelo presidente ucraniano. Finalmente, Zelensky reconheceu aquilo que devia ter dito há muito: é que nem o povo Ucraniano, nem o governo do país, têm qualquer palavra a dizer sobre o curso da guerra, sobre quando se iniciarão negociações de paz e sobre aquilo que a Ucrânia cederá, nessas negociações. Todas essas decisões cabem, exclusivamente, à administração norte-americana, apesar de ser ucraniano o sangue derramado.
Os EUA preferiram criar expetativas impossíveis de concretizar e ocultar factos relevantes. A Europa seguiu acriticamente esse jogo, ignorando o drama que devia ter evitado, apesar de saber, desde o início, que a Ucrânia não poderia vencer. Está à vista o resultado: sacrifícios incontáveis, centenas de milhares de mortes e um mundo mais perigoso. Mil dias depois, nem uma das maiores operações de manipulação mediática consegue ocultar que só três partes ganharam: a indústria do armamento, os EUA e, ironicamente, a Rússia, cuja economia cresceu muito mais que a dos países europeus.
Se, hoje, está à vista que a guerra nunca foi a solução, desde o início que é evidente que a preocupação dos governos europeus e norte-americano foi com os seus interesses económicos e geopolíticos, e não com o povo Ucraniano, com os direitos humanos ou com o direito internacional. Nenhum discurso de circunstância permite esquecer os crimes de guerra e contra a Humanidade no Vietname, na Jugoslávia, no Iraque, na Síria, na Líbia, na Palestina, entre tantos outros países, destroçados com bombas ocidentais. O precedente da destruição de fronteiras foi aberto pela NATO, na Jugoslávia, com resultados desastrosos. Foram governos norte-americanos que justificaram guerras com mentiras e disseram que valeu a pena a morte de meio milhão de crianças iraquianas.
É urgente reiniciar as negociações de paz, que nunca deviam ter terminado. É urgente ouvir os povos ucraniano e russo, que são os primeiros interessados na paz. É urgente respeitar a vontade daquelas populações, muitas delas em guerra há mais de 10 anos. Muito mais do que isto haveria a dizer, mas estes são três factos muito incómodos, que nos tentaram esconder. Há que inverter rapidamente o curso dos acontecimentos, porque estamos cada vez mais à beira do abismo.