As baixas qualificações, os estereótipos de género e a falta de respostas formativas adequadas são alguns dos fatores que justificam a elevada taxa de jovens açorianos que não trabalham e não estudam, disse hoje o investigador Francisco Simões.

“As baixas qualificações afetam decisivamente esta situação. Depois há problemáticas específicas da região. Pode não parecer, mas a participação feminina no mercado de trabalho ainda é um problema em muitas comunidades açorianas, muito marcadas por estereótipos de género”, avançou, em declarações aos jornalistas, o investigador na área da psicologia do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).

Francisco Simões falava, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, à margem da conferência internacional “Guia para a inclusão social de jovens NEET”, organizada pela Rural NEET Youth Network, em que participam 50 investigadores de vários países da Europa.

Segundo o Governo Regional dos Açores, no primeiro trimestre de 2023, a taxa de jovens que não estudam, não trabalham, nem frequentam formação profissional (NEET) na região era de 15,1%.

Um dos principais fatores que contribuem para este cenário é a taxa de abandono escolar da região, que é a mais elevada do país.

“O fator educativo tem um peso muito grande aqui. As nossas taxas de abandono escolar precoce infelizmente congelaram desde 2015. Oscilam entre os 26-27%, com uma exceção em 2022, em que houve uma quebra, mas voltámos ao mesmo nível”, explicou Francisco Simões.

Por outro lado, a região tem “uma estrutura formativa que não responde às necessidades destes jovens, sobretudo a partir dos 18 anos”.

“Alguns deles precisariam de respostas muito ágeis de respostas de programas de reconversão curtos que permitissem acesso mais rápido ao mercado de trabalho”, defendeu o investigador.

Para Francisco Simões, o problema exige “uma maior coordenação de políticas entre setores da administração pública”, como educação, emprego e saúde, e um maior envolvimento das comunidades informais.

“Há um esforço regional nesse sentido, porque neste momento a Agenda Regional para a Qualificação Profissional prevê a criação de um plano para a inclusão dos jovens na educação ou formação e há um grupo de trabalho que está a desenvolver essa proposta de integração de políticas e de intervenções no terreno”, revelou.

O perfil dos jovens NEET é “muito variado”, mas é preciso “prestar atenção” aos “desencorajados”, que já desistiram de procurar formação e emprego.

“Tem sido um perfil que tem vindo a crescer na Europa, sobretudo depois da pandemia. Isso levanta algumas preocupações. Significa que temos jovens que estão por tempo mais prolongado fora dos sistemas formais e quanto mais tempo estão fora desses sistemas formais, mais difícil é depois reintegrá-los”, alertou o investigador.

Maria Fernandes Jesus, investigadora na área de psicologia social e comunitária na Universidade de York St John, em Londres, e no ISCTE, coordenou um grupo de trabalho sobre inclusão social de jovens NEET em que participaram mais de 20 investigadores da rede Cost Action.

O grupo identificou 43 projetos comunitários que promovem a inclusão social de jovens NEET e a investigadora acredita que muitos poderiam ser replicados nos Açores, até porque a região tem em comum com estas zonas da Europa “dinâmicas mais rurais” e a dificuldade em mobilizar jovens”.

Segundo Maria Fernandes Jesus, são sobretudo os projetos “que envolvem ativamente os jovens” desde a sua criação, aqueles que são “mais eficazes e sustentáveis ao longo do tempo”.

“Ser NEET não é só falta de trabalho ou falta de acesso a educação, tem implicações em termos de qualidade de vida. Tem um impacto muito grande a níveis de envolvimento na comunidade, de exclusão social, de discriminação. Há uma tendência para acentuar todos estes aspetos negativos. É preciso olhar para os jovens NEET também deste ângulo de inclusão social e para a sua participação e envolvimento nos projetos que são orientados para eles”, salientou.

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