Zita Mendes regressou há dois anos às suas origens, à ilha do Corvo, nos Açores, rendeu-se aos encantos da terra natal e abraçou a tradição corvina da tecelagem, que se perdeu no tempo há mais de 50 anos.
Natural da mais pequena ilha dos Açores, Zita Mendes, com perto de 40 anos, esteve durante 19 anos a residir na ilha Terceira. Há dois anos “voltou para ficar” no Corvo, apercebendo-se que “tinha permanecido demasiado tempo fora”.
“Aqui [no Corvo] a vida é mais calma e em cinco minutos chega-se a qualquer lado. O carro só é necessário quando o tempo é mais rigoroso”, durante o inverno, descreve à agência Lusa Zita Mendes.
A artesã ficará para a história do Corvo como a primeira tecelã credenciada para revitalizar um saber extinto, que pertencia à memória coletiva da comunidade corvina, segundo o Ecomuseu local.
Está desde 09 de julho credenciada no CADA (Centro de Artesanato e Design dos Açores) como artesã da ilha do Corvo dedicada à tecelagem, ainda de acordo com o Ecomuseu do Corvo, que desenvolve um projeto para revitalizar uma tradição corvina que se extinguiu na segunda metade do século XX, mais concretamente em 1969.
Zita Mendes e a mãe, Maria Conceição Mendes, são as duas artesãs no ativo na arte da tecelagem, produzindo pequenas peças de artesanato. Zita assume que tem “alguma aptidão” para o ofício, porque “herdou da mãe”.
“Talvez um pouco por aí é que ganhei o gosto por este tipo de artes”, confessa.
Primeiro foram os tradicionais gorros de lã, típicos da ilha do Corvo e agora a tecelagem.
“Já fazia o gorro tradicional, mas a tecelagem veio na sequência dessas formações. Tive a sorte de ter um bom formador do continente. Sempre que vou sabendo mais, vou tendo mais vontade”, conta.
Não se dedica a 100% à tecelagem, pois tem uma profissão ligada ao turismo, mas garante estar de “alma e coração” neste ‘hobby’.
“Esta é uma arte que tem muito por onde explorar e muito por onde crescer. Quanto mais vou aprendendo mais gosto”, afirma.
Zita Mendes já tinha um tear que herdou da mãe, mas adquiriu recentemente outro, em segunda mão.
“Este ainda não chegou à ilha. Tem um metro de largura e permite fazer peças mais largas e é mais rápido”, explica, assinalando que tem “um certo gosto” pelas peças tradicionais, como almofadas ou sacos de pano para a tradição do “Pão por Deus”, no dia de Todos os Santos, assinalado em 01 de novembro.
Para a artesã, a arte da tecelagem está “no pano”.
“O pano é que é a arte, aí é que se pode fazer inúmeras coisas. Só depois é que vem a costura, outro desafio para mim, porque não sou costureira”, destaca.
Depois, a produção “é relativamente rápida”, segundo a artesã, que consegue confecionar o pano “em meio-dia ou até menos”.
Por agora, as peças que produz são para venda na ilha, referindo que os turistas “apreciam muito”.
A artesã destaca a importância das formações e o impulso dado a este ofício, numa ilha com cerca de 400 habitantes e onde o tempo “não corre” à velocidade das grandes cidades.
“Temos mais disponibilidade de tempo, principalmente no inverno, para explorar e criar. Acho que a iniciativa do Ecomuseu é uma mais-valia”, considera.