A exposição “Fertile Futures: Laboratório em Itinerância”, que representou Portugal na 18.ª Bienal de Arquitetura de Veneza, vai ter o “último sopro” no centro de artes Arquipélago, em São Miguel, Açores, refletindo sobre a gestão dos recursos hídricos.

“Essa passagem pelos Açores é o último sopro visível do projeto, que continua, precisamente, a assumir-se comprometido na abordagem deste laboratório e entende esta georreferenciação nos Açores como um ingrediente principal deste laboratório”, explicou à agência Lusa a curadora Andreia Garcia.

“Fertile Futures” vai ser inaugurada no próximo sábado às 16:00 locais no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas dos Açores, localizado na Ribeira Grande, em São Miguel, ficando patente até 02 de março de 2025.

A exposição “problematiza a escassez da água doce” a partir de sete territórios nacionais: Bacia do Tâmega, Douro Internacional, Médio Tejo, Alqueva, Perímetro de Rega do Rio Mira, Lagoa das Sete Cidades e ribeiras madeirenses.

“Este projeto tinha como ambição primeira constituir-se como uma verdadeira ágora, um espaço aberto, com parte de laboratório, com múltiplas reflexões, assumindo a urgência deste problema que tem a ver com a emergência da escassez dos cenários de água doce”, reforçou.

Andreia Garcia realçou a importância de trazer a reflexão aos Açores, “imaginando o futuro de uma forma mais utópica”, através do caso Lagoa das Sete Cidades, em Ponta Delgada, um dos territórios presentes na exposição por intermédio de um trabalho do Ilhéu Atelier.

“É um projeto que não vem para cá [Açores] mostrar-se ou exibir-se. Veio para ampliar o seu laboratório e entende que, por isso mesmo, deve criar uma amplificação desta arqueologia da memória coletiva e biológica”, salientou.

No caso daquela lagoa, que é o maior reservatório de água dos Açores, a curadora alerta para os riscos da eutrofização e da “romantização” em torno da paisagem.

“Estamos a falar de dinâmicas que são patrimoniais e que definem paisagem dos Açores, como a agropecuária. Ninguém sugere que se deva terminar com essa atividade, de todo, mas percebermos que há um uso desmedido de fertilizantes químicos que se não forem pensados poderão levar a consequências de profundo desequilíbrio”, afirmou.

Em jeito de balanço do projeto, que passou por vários pontos do país, Andreia Garcia assinalou a importância da iniciativa para chamar a atenção para a “urgência do utópico” e para “desmontar a celebração do arquiteto autor”.

“Acima de tudo esta representação na Bienal de Veneza permite confirmar que, efetivamente, todas as possibilidades de germinar qualquer tipo de sugestão ou reparação do futuro terá de ser, indiscutivelmente, feita de forma colaborativa”, afirmou.

Além de suscitar o debate através da “reflexão transdisciplinar”, a “Fertile Futures” procurou alertar para a necessidade de “pensar a sociedade de forma mais justa e ambientalmente mais sustentável”.

“Cremos que no final deste projeto ‘Fertile Futures’ o que fica é, acima de tudo, a inscrição de preocupação para estas gerações que puderam intervir neste projeto e para aquelas que vão recolher os frutos deste projeto”, explicou.

Além da exposição no Arquipélago, vão decorrer vários eventos paralelos, como as “Assembleias da Pensamento” (a 07 de novembro e 16 de janeiro) ou um percurso pela bacia hidrográfica das Sete Cidades (a 12 de outubro).

 

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