As violas da terra dos Açores passam a ser o primeiro produto de construção artesanal da região entre as produções artesanais portuguesas com Indicação Geográfica (IG) para preservar o instrumento musical de cordas típico do arquipélago, foi hoje divulgado.
Segundo o Governo açoriano, o selo de certificação IG vai permitir, por exemplo, “a proteção dos direitos de propriedade intelectual, a salvaguarda da autenticidade dos produtos, ou a promoção da competitividade das micro, pequenas e médias empresas”.
“A certificação IG contribui, também, para a preservação e valorização dos produtos artesanais cuja produção está ligada a uma área geográfica específica e a uma maior rendibilidade e atratividade das profissões artesanais tradicionais, criando incentivos ao fabrico de produtos de qualidade”, explica o executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM), numa nota de imprensa onde é divulgada a atribuição da certificação.
José Agostinho Serpa, da ilha das Flores, António Mota, da ilha Terceira, Hugo Raposo, da ilha de São Miguel e Raimundo Leonardes, da ilha de São Jorge, foram os primeiros artesãos de violas da terra a receber o selo de certificação IG.
A viola da terra é um instrumento musical de cordas típico dos Açores, pertencente à família das violas de arame portuguesas, que teve origem no século XVIII e “sobreviveu graças ao povo”.
Tem a caixa em forma de oito e 12 cordas: três ordens duplas (seis cordas mais agudas organizadas aos pares) e duas ordens triplas (outras seis cordas graves e organizadas em conjunto de três).
O instrumento é também conhecido como viola de arame ou viola de dois corações, sendo semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas.
No passado, a viola da terra fazia parte do dote do noivo e o seu lugar na casa durante o dia era em cima de uma colcha axadrezada, como adorno do quarto do casal, assumindo, desde o povoamento do arquipélago, um lugar de destaque nos festejos, bailes, cantorias e serões.
A secretária regional da Juventude, Habitação e Emprego, que esteve na cerimónia de certificação, na segunda-feira, no Fórum dos Cordofones Tradicionais Portugueses, promovido pela a.Certifica no âmbito da Feira Internacional de Artesanato – FIA Lisboa, destacou a importância da certificação para a “proteção do saber-fazer artesanal” do instrumento musical, já que a produção certificada passa a estar circunscrita ao território dos Açores e aos artesãos açorianos certificados.
“A certificação de produtos artesanais com IG interessa-nos, porque essa certificação garante a qualidade, a reputação e as características diferenciadoras dos produtos, que passam a ver reconhecido o valor histórico da sua arte e a qualidade da sua produção no território nacional e europeu”, sublinhou Maria João Carreiro, citada na nota.
A certificação das Violas da Terra com a marca de IG “é uma responsabilidade e uma oportunidade para os artesãos”, acrescentou a governante.
José Wellington Nascimento foi o autor do Caderno de Especificações Técnicas da certificação das Violas da Terra.