Os Açores estão a recorrer à mão-de-obra estrangeira para colmatar o problema da falta de trabalhadores no setor da construção civil, que se poderá agravar tendo em conta “o aumento considerável” do investimento público, disse hoje fonte do setor.

“A única solução que as empresas têm neste momento é reforçar os seus recursos ao nível da mão-de-obra com a contratação de trabalhadores estrangeiros”, disse a presidente da Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas dos Açores (AICOPA) Alexandra Bragança, em declarações à agência Lusa.

Segundo a responsável, o recurso à mão-de-obra estrangeira na construção civil “aumentou nos últimos tempos” no arquipélago, porque não há mão-de-obra suficiente nos Açores.

A grande maioria destes trabalhadores recrutados no estrangeiro são provenientes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas há também trabalhadores provenientes da Ásia, nomeadamente Paquistão e Índia, e da América do Sul, com oriundos da Colômbia indicou.

“O aumento considerável do investimento público está a levar a uma maior contratação de mão-de-obra estrangeira e ao regresso de pessoas que estavam na profissão, mas que não estavam formalmente inseridas no mercado de trabalho”, explicou Alexandra Bragança.

Essa lacuna de trabalhadores na construção civil coloca-se “por todas as ilhas”, mas, segundo a responsável, “com maior predominância em São Miguel”, a maior ilha açoriana.

Para a presidente da AICOPA, ainda “não foi experienciado no terreno esse boom da construção” que está prevista no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) porque as obras ainda não estão todas lançadas e, daquelas que já foram lançadas, muitas ainda não começaram, mas começam a ser sentidas dificuldades.

“As empresas já estão a sentir muita dificuldade, no cumprimento dos prazos dos planos de trabalho, tendo em conta o volume de trabalho que têm neste momento e que conjuga investimento público e investimento privado”, explicou a responsável à Lusa.

Alexandra Bragança referiu-se aos dados estatísticos, indicando que, comparando dezembro de 2022 com o mesmo período de 2023, “houve um aumento de 25%” ao nível de trabalhadores empregues no setor da construção civil.

“Passámos de 7.850 para 9.800 trabalhadores no setor”, assinalou, vincando que ainda assim o setor carece de trabalhadores.

A responsável teme, por isso, que a situação possa ficar “aflitiva”, alegando que “ainda existem muitas obras que não foram consignadas, apesar de já haver uma adjudicação”.

“Tendo em conta o volume de investimentos no âmbito do PRR, a situação pode tornar-se aflitiva, principalmente se as obras se iniciarem todas ao mesmo tempo”, nomeadamente na área da habitação e das infraestruturas terrestres, disse a presidente da AICOPA, defendendo a necessidade de dar “um impulso” aos investimentos que já foram adjudicados e que é necessário que arranquem para que as empresas possam “prever as necessidades que vão ter ao nível da suas carteiras de obras e reforço dos seus recursos” humanos.

Se numa determinada altura ocorrerem “consignações todas ao mesmo tempo, torna-se muito mais complicado”, acrescentou, reiterando a necessidade de continuar o investimento na área da formação profissional.

PUB