Autor: PM | Fotos: Shine Iberia Portugal

Natural da Povoação, na ilha de São Miguel, Samuel Pacheco é um dos concorrentes da nova edição do The Voice Portugal, o popular programa de talentos da RTP1.

Pianista, cantor e compositor, Samuel começou a estudar música aos sete anos e hoje leva a sua paixão e identidade açoriana a um dos palcos mais mediáticos do país.

Em entrevista ao Açores 9, o jovem artista fala sobre o seu percurso, a experiência no programa e o amor que o liga à música.

Açores 9: Samuel, é natural da Povoação, em São Miguel, e está agora a representar os Açores no The Voice Portugal. Como tem sido viver esta experiência num dos maiores palcos televisivos do país?

Samuel Pacheco: É uma experiência intimidante, de facto. É um palco muito diferente dos que costumo pisar, com um ritmo distinto daquele a que estou habituado, mas muito gratificante ver toda a “máquina” a funcionar e as equipas a trabalhar para o mesmo fim. Acaba por ser uma experiência de aprendizagem diferente e esclarecedora sobre o mercado de trabalho na música e na televisão.

A9: O que o motivou a participar no The Voice Portugal e como foi o momento em que decidiu fazer a inscrição?

SP: Sou profissional há alguns anos e decidi que queria dar um passo diferente na minha carreira. Gosto muito do que faço e achei que o The Voice seria uma boa forma de dar a conhecer a minha música e a minha voz.

A9: Começou a estudar piano aos sete anos. O que o levou a escolher este instrumento e o que mais o fascina nele?

SP: O estudo do piano veio de uma certa teimosia infantil. Nas primeiras aulas de música, eu pedia sempre uns minutos ao professor para poder tocar no piano da sala. Essa curiosidade levou-me a ter aulas individuais e a aprender aos poucos o instrumento. Sou imensamente grato pela sorte de ter podido estudar piano tão perto de casa. É um instrumento fantástico, que me ajuda a concretizar as minhas ideias e músicas. A compor, acompanhar ou tocar em banda, sempre me confortou poder ser o “meu próprio pianista”. Mais tarde, descobrir os sintetizadores e os sons que podem ser criados nos teclados deixou-me ainda mais fascinado.

A9: Sabemos que, mais tarde, também iniciou aulas de canto. Como foi esse processo de transição entre o piano e a voz, e de que forma as duas áreas se complementam no seu trabalho artístico?

SP: Sempre cantei desde que me conheço, e o que mais me divertia era aprender músicas para me poder acompanhar ao piano. Quando comecei as aulas de voz, foi um desafio, principalmente na adolescência, descobrir o que a minha voz é capaz ou não de fazer. Aprendi a respeitá-la e a vê-la como um instrumento. O facto de já tocar piano ajudou-me a desbloquear sonoridades e conceitos teóricos, e cantar tornou o piano uma espécie de “segunda voz”.

A9: Estudou na Escola de Jazz Luiz Villas-Boas e licenciou-se em Jazz na Escola Superior de Música de Lisboa. Que importância tiveram esses anos de formação para o seu crescimento enquanto músico e intérprete?

SP: Sempre fui alguém com vontade de criar — músicas, letras, composições e produção. Estudar foi essencial para aprender a transpor as minhas ideias e torná-las reais. O estudo do jazz, ainda que exigente, ajudou-me a descobrir novos estilos e a improvisar. Aprendi a estruturar tudo o que “invento” graças à improvisação, e isso moldou completamente a minha forma de compor e tocar.

A9: Antes do The Voice, já tinha criado projetos originais como o duo, a banda Mind Mojo e, mais recentemente, o seu projeto a solo “SAMUEL – ULTRASENTIMENTAL”. Que significado têm esses trabalhos na sua trajetória?

SP: Os Mind Mojo são o meu primeiro grupo de música original. Estamos juntos desde 2021, e foi com eles que dei os meus primeiros passos dentro da indústria da música. São um grupo de amigos e músicos dos quais me orgulho muito.
O ULTRASENTIMENTAL nasceu como um desafio pessoal no final da licenciatura. A minha professora incentivou-nos a criar temas originais, e decidi fazer um álbum completo, sozinho, desde a composição à mistura. É um trabalho do qual me orgulho e que me lembra sempre os Açores. Foi um grande desafio escrever em português dentro do estilo que mais gosto, e esses projetos continuam a ser parte essencial de quem sou.

A9: Como descreve o estilo musical que tem vindo a desenvolver — há alguma inspiração ou artista que considere determinante na sua forma de criar?

SP: Hoje em dia, artistas como Stevie Wonder, D’Angelo, Hiatus Kaiyote, Casiopea ou Moonchild inspiram-me muito. Mas as minhas influências são diversas e vão evoluindo com o tempo. Gosto de pensar que a minha música não precisa caber apenas numa categoria. Pode ter R&B, Neo Soul, pop e tudo o que fizer sentido. O importante é manter-me fiel ao que acredito e respeitar a música que crio.

A9: Como tem sido o contacto com os mentores e os restantes concorrentes do The Voice? Há alguma aprendizagem que destaque dessa convivência?

SP: Os momentos de convívio são sempre interessantes. Gosto de conhecer outros cantores e partilhar experiências. É inspirador perceber como cada história molda um músico. Apesar de ser um concurso, acredito que todos ganhamos quando partilhamos música. O palco pode intimidar, mas é essencial manter leveza e lembrar que, depois do concurso, ainda há muito trabalho e música pela frente.

A9: Como artista açoriano num formato nacional, sente que está também a levar um pouco da cultura e da identidade dos Açores ao público português?

SP: Tenho muito orgulho de onde venho. Levo sempre um bocado da minha terra nas letras e nas músicas que componho. Em criança, ficava feliz ao ver açorianos na televisão nacional. Espero que a minha presença inspire outros artistas das ilhas. Nem todos têm oportunidade de sair da sua terra, por isso é importante mostrar que há arte a acontecer nos Açores. Sinto essa responsabilidade, mesmo que de forma natural, e espero honrar sempre as minhas raízes.

A9: O que o público pode esperar de si nas próximas etapas do programa e quais são os seus planos para depois do The Voice Portugal?

SP: Quero aproveitar ao máximo esta experiência. Gosto de desafios e tento sempre ultrapassar o nervosismo para dar o meu melhor em palco. Depois do The Voice, quero continuar a fazer a minha música, partilhá-la com mais pessoas e inspirar outros, seja em que área for.

PUB