Santa Clara, no concelho de Ponta Delgada, nos Açores, alberga um movimento cívico que há 20 anos – desde a criação da freguesia – vence as eleições autárquicas localmente, contrariando a hegemonia social-democrata na Câmara Municipal registada desde há 32 anos.
O movimento “Santa Clara Vida Nova” – que nasceu em Ponta Delgada e contabiliza seis vitórias consecutivas desde a sua criação, em setembro de 2005 -, é constituído por cidadãos independentes, a par de militantes do PCP, PS e PSD, entre outros, como explica à Lusa Mário Abrantes, um histórico comunista que esteve na génese do movimento.
Mário Abrantes recorda que o movimento surgiu de uma “iniciativa cidadã” que pretendia “resolver uma série de problemas” na localidade, como o facto de ser uma “lixeira da cidade de Ponta Delgada”, a par da “autêntica bomba-relógio” devido aos depósitos de combustível, “a poucos metros das habitações”.
Abrantes refere que “começou a haver uma corrente na freguesia de São José de uma ala, dentro do próprio partido do poder (PSD)”, de “gente que defendia a criação da freguesia de Santa Clara”, a par de outros cidadãos e militantes de outros partidos.
Entretanto, o PCP tinha a sua sede dos Açores em Santa Clara desde 1979, beneficiando de uma “situação privilegiada no contacto com as pessoas” e com os seus problemas, diz Mário Abrantes.
Este responsável recorda que a luta “foi-se acentuando cada vez mais” através de “um conjunto de personalidades e a partir do plenário de cidadãos que se tinha formado por causa dos depósitos de combustível”.
O movimento surgiria assim da “agregação de vontades de pessoas de diversas forças políticas e independentes que desembocou numa lista de cidadãos eleitores para concorrer à freguesia de Santa Clara”, criada em 2002.
Para João Pacheco de Melo, também fundador, e que ainda hoje se mantém no movimento, tal como Mário Abrantes, o que esteve na sua génese foram as “características idiossincráticas da população de Santa Clara em primeiro lugar”.
Recorda que o padre Fernando Vieira Gomes, quando “promoveu o curato de Santa Clara a paróquia (1957), já tinha tentado a elevação do lugar a freguesia”, o que viria a acontecer em 2002, por via de uma iniciativa do PCP, aprovada, por unanimidade, na Assembleia Legislativa Regional dos Açores.
“Eram outros tempos. Salazar mandava. Já em democracia, a questão foi colocada, mas interesses partidários (uma vez um, outra vez outro) inviabilizaram: não queriam reduzir o tamanho e a importância de São José”, afirma Pacheco de Melo.
Este integrante do movimento classifica o funcionamento do grupo “como de grande informalidade, aprofundada discussão, mas sempre em busca de uma solução o mais consensual possível”.
Nas eleições autárquicas de 12 de outubro, o movimento “Santa Clara Vida Nova” angariou 85,32% dos votos expressos (81,15% em 2021), sendo que nos últimos atos eleitorais as forças partidárias não têm apresentado listas para os órgãos da freguesia. Para a Câmara Municipal, venceu o PSD.




















