Joaquim Machado, Deputado do PSD/Açores ALRAA

Prefiro observar de longe as chamadas redes sociais, onde tudo é urgente e efémero e o pensamento tende a ser substituído pela reação, e a reflexão pelo impulso, preservando assim o meu espaço de silêncio e de pausa, ainda que tal não agrade muito à lógica algorítmica.

Um destes dias dei por mim a pensar nestas coisas e na forma como nas ditas redes se apanha a sinceridade e a coerência de tanta gente. Por exemplo, de certos ativistas.

É curiosa a velocidade com que os ventos mudam no mar da virtude pública. Há pouco, era ver barcos cheios de ativistas, deputados e celebridades, todos navegando heroicamente rumo a Gaza — câmaras ligadas, discursos inflamados e promessas de humanismo a bordo. Diziam que era um “imperativo moral e ético”, que iam onde os Estados falhavam, que o sofrimento exigia ação imediata.

Pois bem. Chegados ao porto — ou, mais precisamente, às manchetes —, os mesmos arautos da coragem humanitária parecem ter perdido, subitamente, o GPS da solidariedade. As bombas cessaram, os holofotes apagaram-se… e os destroços ficaram por limpar. Gaza continua a precisar de reconstrução, mas os heróis do mar regressaram ao conforto do sofá, talvez a preparar o próximo documentário da trupe sobre “a experiência transformadora” de quase terem lá chegado.

Ironia das ironias: quando o perigo era mediático, todos queriam embarcar; quando a necessidade passou a ser o levantamento de tijolos e a reconstrução de casas, o “imperativo moral” já não parece tão urgente. A solidariedade, afinal, é mais leve quando cabe num tweet e não num balde de cimento.

 

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