A prática de adiantar ou atrasar os relógios remonta ao século XVIII, por Benjamin Franklin, e século XX, por William Willet, com o objetivo de aproveitar mais tempo de luz natural. Na primeira Guerra Mundial, a Alemanha e o Império Austro-húngaro, foram os primeiros a implementar o sistema, em 1916 para poupar carvão (Portugal seguiu o exemplo).
Em muitos países europeus, essa prática foi abandonada no período pós-guerra, tendo reaparecido de novo durante a Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, na sequência da crise do petróleo em 1973, vários países europeus voltaram a considerar o adiantamento da hora como forma de reduzir o consumo de energia. No que se refere à União Europeia, em 1980 foi adotada a primeira diretiva que tinha como intuito a harmonização dos regimes referentes aos horários de verão, de modo a facilitar o funcionamento do mercado único.
Em 2018, a Comissão Europeia promoveu uma consulta pública que recebeu cerca de 4,6 milhões de respostas, das quais 84% se manifestaram a favor da suspensão da mudança de hora. Devido à falta de consenso, o Parlamento Europeu nunca conseguiu adotar uma resolução que efetivasse esta suspensão. Perante a recente intenção de Espanha em propor o regresso desta discussão, com vista à suspensão desta norma, importa perceber os principais benefícios e contrariedades desta possibilidade.
No lado dos benefícios, está o maior aproveitamento da luz natural, através da existência de mais horas de luz durante o dia. Isto pode fomentar a economia e contribuir para uma maior vitalidade social. Originalmente, o principal argumento para a mudança de hora era que, ao deslocar a luz solar para a tarde, se conseguiria reduzir a necessidade de iluminação artificial e de aquecimento. Na prática, há indícios de que a poupança existe, mas é muito reduzida e varia conforme o país, estação, bem como o comportamento dos utilizadores. No que concerne à harmonização do espaço europeu, a adoção de regras comuns pela União Europeia, evita confusões em transportes, comunicações, comércio, entre outros. A coordenação europeia tem esse papel de facilitar o funcionamento do mercado.
Por outro lado, temos desvantagens e críticas relevantes. Desde logo, impactos na saúde e no bem-estar. A mudança de hora altera o ritmo circadiano, o que pode gerar perturbações no sono, cansaço, menores índices de concentração, e até efeitos mais graves em grupos considerados vulneráveis, como é o caso das crianças, dos idosos, e pessoas com doenças crónicas. Se utilizarmos o argumento da poupança energética, importa referir que embora exista o conceito de poupar energia com a mudança de hora, os resultados mostram que a diferença é marginal, ou até nula, pois a poupança em iluminação é contrabalançada por um maior consumo em aquecimento ou ar condicionado, dependendo, naturalmente, da estação e região.
Também é relevante olhar para a complexidade prática e para os custos de mudança. Mesmo que se optasse por abolir a mudança de hora, surgem várias questões. A primeira que surge é precisamente que hora adotar? Verão ou Inverno? Se cada país decidir de forma independente, pode surgir algo do género de uma “manta de retalhos” de fusos horários da UE, o que complica muito a logística e o mercado da União.
Algumas pessoas levam vários dias, ou até semanas, a adaptar-se à nova hora nos primeiros dias da mudança, o que se traduz numa diminuição de produtividade, por exemplo, bem como uma série de custos indiretos à sociedade.
A eventual eliminação da mudança de hora na União Europeia não é uma questão simples ou meramente simbólica. É sim um equilíbrio entre benefícios sociais e custos concretos. Importa, por isso, refletir sobre aquilo que melhor servirá a população no seu todo.
Por fim, é importante ter em conta que qualquer decisão deverá preservar a coordenação entre países, de modo a evitar impactos negativos na mobilidade, economia, e no funcionamento agregado da União Europeia.

















