O vice-presidente do Governo Regional dos Açores, Artur Lima, defendeu hoje que a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) deve apoiar a criação do Centro Interpretativo da Base das Lajes, que considerou estratégico para a região.
“É obrigação da FLAD apoiar este projeto, porque ela existe comprovadamente, documentalmente, financeiramente, devido ao acordo da Base das Lajes”, afirmou Artur Lima, numa conferência sobre o Centro Interpretativo da Base das Lajes.
Em 2023, o Governo Regional dos Açores assinou um protocolo com o Instituto Histórico da Ilha Terceira (IHIT) para que fosse criado um plano de estudos destinado à implementação do centro interpretativo, na ilha Terceira.
O trabalho está concluído e será agora submetido a uma comissão científica, composta por investigadores nas áreas de história e relações internacionais.
“O Centro Interpretativo da Base das Lajes é uma iniciativa de caráter estratégico para a ilha Terceira e para todo o arquipélago, porque aprofundar o conhecimento sobre as transformações sociais, económicas e culturais, que esta originou, é preservar a nossa história e a nossa identidade, divulgar esse conhecimento é abrir caminho a novas formas de desenvolvimento e dinamização económica”, frisou o vice-presidente do executivo açoriano.
Segundo o coordenador do estudo, Armando Mendes, o centro interpretativo tem como grande visão “o encontro de culturas” e deverá ser estruturado em três dimensões.
Por um lado, é proposto um centro interpretativo tradicional, instalado, preferencialmente, no ‘bunker’ de controlo e comando da Serra do Cume, na Praia da Vitória.
Com uma aposta, sobretudo, em conteúdos multimédia, esse centro seria destinado a locais e turistas, mas também a escolas.
Numa segunda dimensão, o trabalho propõe a criação de percursos turísticos, nas freguesias localizadas junto à Base das Lajes, com um impacto económico nessas comunidades.
O projeto prevê ainda a criação de um núcleo permanente de investigação, que permitiria fixar pessoas na ilha, que quisessem produzir conhecimento nesta área.
“Vamos continuar a estudar e vamos, sobretudo, tentar encontrar um modelo de estudo que seja prospetivo, para que os decisores políticos açorianos tenham por trás de si pensamento”, explicou Armando Mendes, doutorado em História, Defesa e Relações Internacionais, com uma tese sobre a Base das Lajes.
Também presente na conferência, o presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, Luís Garcia, destacou a importância desta componente de investigação e defendeu que o centro interpretativo pode ser um “instrumento para cumprir a autonomia”.
“Este espaço é simultaneamente memória e projeção, celebra o passado, homenageia os que serviram e recorda o papel que a Base das Lajes desempenhou nas grandes transformações do século XX, mas é também um contributo para reforçar o presente e para preparar o futuro”, frisou.
Para Luís Garcia, o potencial geopolítico e geoestratégico dos Açores é um “desafio central” da autonomia, mas a região precisa de uma estratégia que saiba traduzir a sua posição única em oportunidades concretas.
“É essa consciência do nosso valor que precisamos de afirmar, com serenidade, mas também com muita convicção. Não podemos aceitar visões redutoras, quase provincianas, que insistem em olhar para estas ilhas como algo meramente periférico”, vincou.
Luís Andrade, professor catedrático de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade dos Açores e membro da comissão científica do Centro Interpretativo da Base das Lajes, considerou a criação deste centro “fundamental”.
O investigador sublinhou que os Açores “mantêm a sua importância geopolítica e geoestratégica”, mas defendeu que a região “deve adotar um conceito estratégico próprio, por forma a tornar claro quais são os seus principais objetivos, no que diz respeito às suas relações externas”.
“É indispensável que o arquipélago dos Açores tenha uma visão do papel que pretende desempenhar nesta nova equação de segurança e defesa, tanto no que diz respeito às relações transatlânticas, como no relacionamento entre o Atlântico Norte e o Atlântico Sul”, apontou.
Luís Andrade alegou ainda que é “imperioso que os Açores possam beneficiar mais do Acordo de Cooperação e Defesa” entre Portugal e os Estados Unidos.
Já o historiador e investigador na área da História Militar e a da Aviação Militar Pedro Ventura alertou para as dificuldades de acesso a fundos documentais, sobretudo aos arquivos norte-americanos, que estavam na Base das Lajes e foram transferidos para a Base de Ramstein, na Alemanha.
“É o grande desafio que o centro tem entre mãos, que é conseguir juntar todos estes fundos documentais, dispersos por todas estas geografias, para juntar os ‘think tankers’, que têm nas Lajes este polo central de estudo e conseguir-se ter uma base de trabalho que nos una a todos e que dê às Lajes a relevância estratégica que ela tem”, declarou.

















