Joaquim Machado, Deputado do PSD/Açores ALRAA

Perco no tempo o dia em que li ou ouvi a história do burro e da cenoura, uma espécie parábola, muito antiga, sobre motivação e dependência. Um homem, querendo fazer o seu burro andar mais depressa, amarrou uma cenoura na ponta de um pau e colocou-a à frente do animal. O burro, seduzido pela promessa de saborear o vegetal, caminhava sem parar, acreditando que a recompensa estava sempre ao seu alcance. Mas, por mais que avançasse, a cenoura mantinha-se distante — um incentivo constante, mas afinal inatingível. O truque funcionava: o burro movia-se, não por vontade própria, mas pela ilusão de uma recompensa próxima.

Se lembro aqui esta velha história, que seguramente os mais velhos sabem de cor, é porque ela se aplica com muita propriedade a certos casos na política. Transposta para a política, a relação do burro com a cenoura ganha contornos reveladores. Há partidos que se estruturam à volta da figura mediática de um líder, que funciona como a “cenoura” diante dos militantes e eleitores, de pouco importando a consistência do projeto político à luz do direito e dos padrões mais básicos da democracia. Enquanto ele está presente, o entusiasmo mantém o movimento em marcha. Mas se o líder não vai a votos, se não figura nos cartazes, o encanto desfaz-se, tudo fica sem rumo e mingua o resultado nas urnas.

Bem vistas as coisas, sem a “cenoura” a carroça fica no ponto de partida. Portanto, a lição é clara: quando a força de um projeto depende apenas de uma figura, e não de uma convicção, o caminho político é mera ilusão em movimento.

Onde é que já vimos isto?

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