A freguesia com menos eleitores do país, Mosteiro, nos Açores, onde a eleição dos órgãos autárquicos é feita em plenário, não fica de fora da campanha, que é “muito tranquila” e marcada pela proximidade entre candidatos e cidadãos.
Nesta freguesia do concelho das Lajes das Flores, na ilha das Flores, com 27 eleitores, residem 17 pessoas (o habitante mais novo tem 23 anos e o mais velho 94). A discrepância entre residentes e eleitores acontece porque “alguns [eleitores] vivem na ilha, só que noutra freguesia, e um é emigrante”, explicou à agência Lusa a presidente da Junta, Isabel Tenente.
A autarca, que cumpre o terceiro mandato e não pode recandidatar-se, referiu que a freguesia, apesar dos poucos eleitores, nunca ficou de fora do périplo das caravanas da campanha, porque todos os votos contam e, como diz o ditado popular, “por um voto se ganha e por um voto se perde”.
Contudo, ressalvou que as campanhas ali realizadas são diferentes das de antigamente, quando Mosteiro tinha mais pessoas e o assunto marcava as conversas.
“Agora, a população é tão pouca e, com as novas tecnologias, televisão, computadores, telemóveis, já não existem os serões à moda antiga, onde toda a gente conversava e falava sobre isso. Às vezes, em algum encontro ainda podem falar, mas [a campanha autárquica] já não é vivida com tanta intensidade como há 30 ou 40 anos”, observou Isabel Tenente.
Nas eleições de domingo concorrem à presidência da Câmara Municipal das Lajes das Flores Beto Vasconcelos (PS), Bruno Gonçalves (PSD), Paulo Reis (Movimento Independente pelas Lajes das Flores) e Joana Regalla (Chega).
Em Mosteiro, onde a campanha é “muito tranquila” – tal como a natureza e a vida de quem ali habita -, os candidatos autárquicos marcam sempre presença e contactam com os habitantes pelo menos uma vez.
“[Este ano] todos eles, exceto os do Chega, fizeram sessões de esclarecimento. Não houve foi muita adesão para nenhum deles, a verdade é essa”, disse a autarca, que, na conversa telefónica com a Lusa, apenas descreveu o ambiente de campanha vivido na freguesia e rejeitou pronunciar-se sobre obras feitas nos três mandatos ou necessárias.
Já Manuel Sequeira, de 60 anos, que se descreve como “freguês do Mosteiro, a viver temporariamente na Fajãzinha”, afirmou à Lusa que para a Junta de Freguesia “não é preciso fazer campanha, porque a eleição é feita em plenário de cidadãos e é aí que se tomam as decisões”.
Confirmou que as comitivas de três das quatro candidaturas à presidência da Câmara e à Assembleia Municipal das Lajes das Flores já estiveram em sessões de esclarecimento na freguesia.
“É uma sessão de perguntas e respostas e uma conversa amena. É muito interessante. Os fregueses podem fazer as suas queixas ou apresentar as suas sugestões. Há um contacto muito próximo com os candidatos. Estamos a dois metros uns dos outros a conversar, e os fregueses ficam com uma ideia do que eles pretendem fazer”, contou.
Segundo Manuel Sequeira, a campanha eleitoral autárquica é ali “muito tranquila”: “Também há carros a passar com os altifalantes, mas o que conta é o conhecimento prévio que as pessoas têm dos candidatos e as conversas próximas durante as sessões de esclarecimento.”
Como há poucos fregueses, só uma parte pode ir – as sessões podem ter três, quatro, cinco ou seis pessoas. “Essas sessões são uma boa oportunidade para falar com os candidatos. É tudo muito sossegado e também esclarecedor”, relatou.
Comparando a campanha eleitoral que é realizada na freguesia de Mosteiro e no pequeno concelho das Lajes das Flores (com 1.456 residentes) com as dos grandes centros urbanos, Manuel Sequeira referiu que “esta é muito melhor”.
“Conheço todos os candidatos. Nós não vivemos numa sociedade, nós vivemos numa comunidade e toda a gente acaba por se conhecer”, descreveu.
Na freguesia, situada a cerca de 10 quilómetros da sede de concelho, as candidaturas também fizerem campanha porta a porta e podem até passar pela localidade mais do que uma vez durante as duas semanas de campanha.
“Os candidatos à Câmara andam na rua, eles vão e depois voltam, porque, por vezes, encontram um número reduzido de pessoas e depois voltam para ver se encontram alguém com quem não falaram. Portanto, eles podem voltar duas ou três vezes, dependendo sempre do número de pessoas que viram no dia em que passaram”, esclareceu a autarca Isabel Tenente.
O habitante José Silvino, de 71 anos, “nascido e criado” em Mosteiro, relatou à Lusa, também ao telefone, que viu “passar os candidatos do PSD, do PS e do movimento independente” e falou com os três cabeças de lista “à porta de casa”.
“Eu já não voto, porque não acredito em nada daquilo [das promessas eleitorais]”, disse. Quando questionado sobre as ‘voltas’ da campanha na terra, assegurou que não existem razões para ser agitada: “Como é que não há de ser calminha, se a freguesia tem apenas 17 pessoas? Nem outra coisa era de esperar.”
Os candidatos passaram por ali e “fizeram a reunião na Casa do Povo”, pelo que o trabalho de apelo ao voto “está feito”.
Quanto a obras necessárias, “estão todas mais ou menos feitas” na freguesia, que não tem café, minimercado, associação cultural ou desportiva.
“Está tudo remediado, até temos um campo de futebol, mas não há jovens para lá jogarem. Aqui, só talvez pintando uns muros, mais nada, porque a Câmara faz a limpeza e não há queixas a fazer”, disse José Silvino.
Nas voltas que deu pela terra, o morador apenas viu “um cartaz do PS”, pois os outros candidatos “deram uns papéis”. Contudo, na sua opinião, “quem quiser ir votar não é por falta de informação, porque há muita”.
A freguesia do país com menos eleitores, que nunca fica de fora da campanha eleitoral, vai voltar a eleger os órgãos autárquicos em plenário. A próxima equipa que vai gerir a Junta será eleita em plenário, no dia 19 de outubro, e sem necessidade de haver campanha.
Nesse dia, “são apresentadas as listas e os eleitores votam na lista que acharem melhor”, disse a presidente da Junta, Isabel Tenente, referindo que o ato eleitoral em plenário sempre decorreu de “forma muito tranquila”.




















