Isto é que está a ser uma campanha de salgalhadas, não é? Ainda está em curso. Terminarápor estes dias, dando início à próxima. Não aprendemos grande coisa. Aliás,parece que desaprendemos uma boa parte do que era suposto sabermos. A começar,desde logo, pela civilidade, seja nos debates, da responsabilidade das Estações Públicas -RDP e RTP, seja nas ações de campanha.

Veja-se o exemplo gritante da linguagem utilizada pelos senhores do costume. Infelizmente, estamos a normalizar a banalidade na política. Há pessoas que até votam de propósito nessa gente. Mas isto não é normal. Um deputado regional que escreve sem qualquer educação namaneira como se retrata, seja em artigos de opiniões, debates ou postas de pescada nassuas redes sociais, nada mais merece senão desprezo. Lamento que assim seja.

Vivemos num mundo de profanidade e heresia moral. Onde palavrão é hábito e respeito é proibido. Não tenho como não ficar triste com o que leio. Até sobre pessoasque considero no lado oposto dos valores que defendo. O fundo do poço há muito que é teto para osengravatados de Ventura.

Entretanto, a campanha segue. Assistimos a confusões e trocas de galhardetes, do Corvo edas Flores ao Nordeste e a Santa Maria. Tudo vale menos as medidas políticas. Optam, antes por ataques pessoais, por discursos vazios, incongruentes. Parece haver, na mesma pessoa, uma bipolaridade política, onde como deputado cala certas decisões governamentais, para, em campanha autárquica, as criticar…

Foramapresentados e distribuídos programas políticos, meio que às escondidas, porque o

que conta agora são os vídeos virais, sejam eles montados em insultos ou burrosempinados em canadas de terra batida.

De uma análise geral, sem tempo nem espaço para textos de considerável tamanho,destaco o trabalho efetuado por algumas candidaturas com capacidade para tal, nosdebates onde se mostraram a público. Na Praia da Vitória, conforme já tiveoportunidade de aqui referir, Marco Martins é o candidato evidente, para lá dacolérica personalidade da atual e frente à inenarrável alternativa ditatorial. Em Vila doPorto, assisti a um dos momentos de maior elevação política, num debate de respeitopelo próximo, digno de ser atendido pelo eleitorado. Na Ribeira Grande, vimos três candidaturas lideradas por mulheres que devolveram a elevação a um debate. Bempreparadas, assertivas e certas do papel fundamental da política na vida das pessoas.São exemplos bons, soltos, que pouca mossa fazem, quando confrontados com aconfusão que para aqui vai.Assisti ao debate da Lagoa, e à quantidade de desinformação pronunciada pela candidataque também é deputada e que deveria ter maisresponsabilidade política. Nada tem,senão um martelo para partir tudo e uma falta de visão para reconstruir o que quer queseja. É de ressalvar que assistimos a um momento em que foi confrontada com dados factuais que desmentem aquele que é o discurso redondo, que reproduzem, independentemente dos lugares onde estejam, seja em declarações ou numa taberna.

Aqui, na ilha onde vivo, e no concelho onde voto, as coisas sempre parecem estarmelhores. Pelo menos, é o que interpreto ao ler o manifesto político de FátimaAmorim, candidata que assume um programa complexo e bastante completo, onde seprevê quase tudo. É uma mulher que representa a continuidade de Álamo de Meneses,político com o qual divergi, mas por quem tenho respeitoinstitucional e sei que deixou obra feita. Nem sempre como eu gostaria, é certo. Aindaassim, de relevo para o município.

Por contraponto, surge Luísa Barcelos, pessoa pela qual nutro simpatia e admiro a sua coragem, que o partido apelida de “jovem esperança”,como se não estivesse enraizada no atual sistema governamental, há já temposuficiente. Não é por aí que merece ser criticada, ainda assim. O debate, relativo ao concelho de Angra do Heroísmo, revelouo que se falava pelos corredores. Uma escolha queespelha a insegurança de umPSD que não quis avançar com os nomes sonantes, talvez com medo dos resultadosdesastrosos face a desentendimentos internos. Foi confrangedor assistir a candidaturas mal preparadas, pois bastaria uma leitura rápida das atas municipais, para se perceber que, no caso do Mercado Municipal, o PSD acordou, somente, agora para o galardão da UNESCO. À altura, o problema eram os gastos, do município, com obras de melhorias nas infraestruturas, para assegurar um maior bem-estar às e aos seus trabalhadores.

E o que dizer do senhor do café e das bananas? Talvez não mereça sequer sermencionado numa análise séria sobre o futuro da cidade património. Mas, aindaassim, fica uma nota para quem vai votar no senhor Ventura, sem sequer saber onome do candidato que vai ajudar a enaltecer. O atual candidato do chega à Câmarade Angra do Heroísmo limitou-se a reproduzir o discurso de sempre e nada acrescentou. Absolutamente, nada!! Vendo e revendo o debate, a mesma resposta serviu a todas as questões colocadas.

Do debate relativo a Ponta Delgada haveria muito a dizer. Não lhe vou denominar de “peixaria” porque seria um insulto ao trabalho das peixeiras e aos pregões das varinas. Opto, antes, pelos termos utilizados pelo candidato do chega:bandalheira e vergonha! Caso fosse uma mulher a ter aquele comportamento, certamente seria adjetivada de histérica.

Destaco a intervenção de Henrique Levy relativa àquela que será da Capital Portuguesa da Cultura, onde percebemos que, para o atual presidente, candidato pela coligação, os eventos acontecem no… Coliseu. Convinha dar uma vista de olhos pelo que tem sido feito em Braga e pela forma dinâmica com que as diferentes vertentes culturais se espalham por toda a cidade.

Ressalvo a intervenção da Alexandra Cunha relativamente à forma obsoleta, transversal a toda a região, como se trata os transportes públicos, traçando um paralelo entre as grandes cidades europeias e os Açores. Mudar mentalidades!

Destaco a calma, a postura, o “savoirfaire” de Isabel Rodrigues, a assertividade da Sónia Nicolau que conseguiu derrubar a aparente calma do candidato da coligação, que ao longo do debate teve de “beber o copo de água até ao fim”. Acabo, percebendo que é muito provável que aquele município se remeta à ingovernabilidade. Com o líder regional do chega a ocupar uma posição relevante no governo daquele concelho, e com a falta de uma

maioria absoluta a deixar Nascimento Cabral descalço, resta perceber o que vai acontecer aos destinos da maior câmara dos Açores.

Estamos na fase final da campanha. A primeira das autárquicas onde André Venturaperspetivou ser o chefe de um grande poder português. O resultado final serádiscutível. Prevejo, infelizmente, uma quebra ainda maior no centro e na esquerda. Com o PSD acontinuar a enterrar a cabeça na areia, incapaz de reconhecer os erros que está aperpetuar e que levam ao crescimento da ala demolidora da justiça social. E com o povo hipnotizado por umvendedor de ódio que passou a anos a lapidar os alicerces do ignóbil castelo demaledicência que ergueu em Portugal.

Não procuro alternativas com este artigo. Não deixo de lamentar o estado a que istochegou. E apelar aos que acreditam na solução. Estejam na Lar Doce Livro, dia 23 deoutubro, para conversar com o Miguel Carvalho, jornalista que nos trouxe a obrasobre o tal partido, que já foi até responsável pela desastrosa demissão de um dos conselheiros do Ventura. Venham daí, preparar a resistência, que toda a ajuda será necessária.

 

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