A Associação Ambientalista Amigos dos Açores alerta para a necessidade de repensar o planeamento do turismo na região e aponta os transportes como o “desafio maior” para garantir a sustentabilidade do setor.
“O desafio maior são os transportes porque sem os transportes não teríamos em primeiro lugar os visitantes. Depois, as opções dos transportes condicionam e muito a mobilidade, não apenas dos visitantes, mas também dos locais”, afirma Diogo Caetano, em declarações à agência Lusa.
O presidente da associação ambientalista alerta que existe um “conjunto de situações” que “devem ser planeadas ao longo do ano inteiro” e “não apenas quando o verão chega”, defendendo que é preciso “repensar a forma como o turista chega e se desloca nas ilhas”.
“Temos um défice de transportes públicos que faz com que a estratégia dos últimos anos tenha dado primazia à viatura individual como solução para se chegar aos sítios”, assinala.
Diogo Caetano apresenta a freguesia das Furnas, na ilha de São Miguel, como um “bom exemplo” de que é “necessário repensar algumas estratégias”, já que os habitantes coabitam diariamente com um “número muito significativo” de turistas.
“Não vamos culpar os turistas por alugarem viaturas, nem as ‘rent-a-car’. Temos de pensar é que há uma necessidade imperativa de ter uma estratégia que reduza as viaturas em certos locais para assentar em transportes públicos mais eficazes”.
O presidente da Amigos dos Açores considera que o ‘shuttle’ implementado na visitação à Lagoa do Fogo pode ser um “modelo a ser estudado” para outros locais em São Miguel como forma de “oferecer alternativas” e “evitar a circulação de viaturas individuais”.
“Ao nível mais ambiental, há um fluxo muito concentrado de pessoas na mesma hora e nos mesmos locais e aí também de haver um trabalho de dispersão e distribuição”, reforça.
Em agosto de 2024, o presidente da Câmara da Povoação transmitiu à Lusa a intenção de criar um “grande parque de estacionamento” na entrada das Furnas, de onde saíssem ‘minibus’ (pequenos autocarros) em roteiro pelas zonas turísticas, mas o projeto ainda não foi implementado.
Diogo Caetano reconhece o papel das identidades públicas na promoção de uma nova estratégia para os transportes públicos, mas salienta que a iniciativa privada também poderá ser importante na oferta de acesso às zonas mais visitadas.
“Estamos a crescer em número de visitantes, mas não estamos a acompanhar em termos de mobilidade”, sublinha.
O ambientalista salienta, também, que a população flutuante acarreta uma pressão adicional sobre os recursos naturais, sistema de recolha de resíduos e de saneamento, além de fazer “disparar os custos” de bens e serviços em determinadas zonas.
O presidente da associação, que é parceira social do Governo dos Açores, propõe que se estudem formas de “proteger habitantes dos maiores problemas, como a escalada dos preços ou a falta de estacionamento”.
“Se para o ano tivermos as mesmas infraestruturas, o mesmo planeamento e a mesma rede de transportes estaremos a agravar problemas e isso também se repercute no sentimento da população”, avisa.
Os Açores registaram 4,2 milhões de dormidas em 2024, mais 469 mil do que no ano anterior.