O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) anunciou hoje investimentos superiores a 100 milhões de euros até 2028 num programa estratégico que irá monitorizar a ligação entre o oceano e o clima.
“Desenhámos um programa estratégico 2025-2028, em articulação com o Governo, auscultando as regiões autónomas, que se designa por Programa Estratégico Nexus Oceano-Atmosfera (PENOA 25-28), com um conjunto de investimentos superior a 100 milhões de euros até 2028”, anunciou o presidente do IPMA, José Guerreiro.
O responsável falava, na Praia da Vitória, nos Açores, na sessão de abertura da conferência internacional “Tempo, Clima e a Economia”.
Segundo José Guerreiro, os Açores “são um dos parceiros essenciais e fundamentais no desenvolvimento deste projeto”.
Entre as medidas previstas no programa, o presidente do IPMA destacou “um sistema de observação permanente do oceano, com ligação ao programa Mercator e à rede de satélites da Agência Espacial Europeia para monitorização constante do oceano”.
Referiu ainda o Hub Azul de Oeiras, para o desenvolvimento da robótica submarina, “que será inaugurado no princípio do próximo ano”, uma plataforma de acesso livre a dados sobre o clima, a atmosfera e o oceano, um sistema de observação permanente meteorológico e geofísico e uma rede de sensores sismológicos.
O IPMA prevê também criar um banco nacional de recursos genéticos marinhos, que será “um dos primeiros a nível europeu”, em articulação com o que está a ser desenvolvido pela Universidade dos Açores e pelo instituto Okeanos.
O presidente do IPMA destacou a importância dos avisos à Agricultura, que deverão ser alargados, ainda este ano, à pesca e à náutica de recreio e marítimo-turística.
“Neste momento, desenvolvemos aplicações previsionais para o setor agrícola que permitem a cada agricultor ter na palma da sua mão aquilo que são eventos como a geada, o escaldão ou a humidade, que podem ser customizados para cada tipo de exploração e de fileira”, explicou.
Numa conferência com foco nas alterações climáticas, José Guerreiro realçou o aumento da frequência de “cheias catastróficas, incêndios descontrolados, secas prolongadas e extremas”, alegando que as consequências destes fenómenos “têm efeitos profundamente impactantes na economia” e na segurança de pessoas e bens.
“Enfrentamos um novo normal perante o qual não podemos nem devemos baixar os braços, num espírito fatalista, mas antes procurar resposta, através de políticas públicas de largo espetro e intersetoriais nos domínios da ciência, economia, proteção civil e planeamento, para apenas citar alguns”, frisou.
Numa mensagem de vídeo, a secretária geral da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), Celeste Saulo, apelou à união de diferentes entidades para desenvolver ciência e serviços que aumentem a resiliência.
“A ciência sozinha não é suficiente, também precisamos de confiança e ação. Portugal, com a sua liderança científica e profunda consciência sobre vulnerabilidades climáticas, tem um papel crítico a desempenhar”, apontou.
Celeste Saulo lembrou a iniciativa Alertas Precoces para Todos, lançada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, em 2022, que pretende “garantir que todas as pessoas no mundo estão protegidas por um sistema de alerta precoce multirriscos até ao final de 2027”.
“É ambicioso, mas essencial. Já houve progressos, mas ainda não é o suficiente. Por cada dólar investido no sistema de alerta precoce, há um retorno dez vezes superior em prejuízos evitados. São investimentos no nosso futuro”, vincou.
“Que não sejamos lembrados por termos o conhecimento, mas não agirmos. Que sejamos, em vez disso, conhecidos como a geração que usou a ciência para proteger vidas, que escolheu a solidariedade em vez do silêncio”, acrescentou.