Há 15 dias, foi aprovado na generalidade um projeto de Lei do PCP que eliminará uma enorme injustiça: nas viagens aéreas, cada residente nos Açores e na Madeira pagará, apenas, o preço final do bilhete, não tendo de esperar pelo reembolso da passagem aérea. Ainda falta muito neste processo, nomeadamente a votação na especialidade e, depois, se for aprovada, a regulamentação da lei. Contudo, o mérito desta proposta é evidente. Foi dado um grande passo no nosso direito à mobilidade, que contou apenas com os votos contra do PSD e do CDS – inclusive dos eleitos nos Açores e na Madeira.
Quando o atual modelo foi implementado, a CDU alertou para o previsível aumento do preço dos bilhetes. A fé inabalável de alguns nos méritos do mercado fê-los garantir que o preço das passagens ia baixar. Ouvimos novamente o mesmo quando o PSD/CDS impôs o teto dos 600€. Não demorou até se perceber que quem tinha razão era a CDU.
Será útil rever um episódio com 5 anos para perceber porque é que esta injustiça se mantém há tanto tempo. Em 2020, houve eleições regionais. No debate televisivo sobre São Miguel, Francisco César participou pelo PS. Eu participei pela CDU. Na altura, a posição defendida pelo PS, PSD e CDS era que devíamos pagar a totalidade da viagem e pedir o reembolso nos CTT. A CDU recusou esta solução e denunciou os seus efeitos perversos, que o PS e a direita fingiam não ver. O PS reconheceu mesmo aquilo que outros tiveram vergonha de dizer: o reembolso era necessário para satisfazer os interesses das low cost. Ou seja, para além dos milhões de euros de apoios públicos que as low cost receberam, o modelo do subsídio foi construído à sua medida.
Ora, depois de aprovada esta proposta do PCP, o PS e outras forças políticas vieram congratular-se publicamente com esta novidade, como se tivessem tido alguma intervenção de relevo neste processo. A conclusão é evidente: as ações políticas são da CDU, enquanto outros preferem dar a ideia de que esta proposta é da sua autoria. Para estes casos, a sabedoria popular tem muitos adjetivos. Sugiro ao leitor que escolha aquele que acha mais adequado.