Os operadores marítimos turísticos dos Açores e a indústria conserveira regional manifestaram hoje opiniões opostas sobre a eventual alteração da rede de áreas marinhas protegidas, no sentido de excecionar a pesca do atum das zonas de reserva total.
“Não faz qualquer sentido! Não conseguimos compreender esta proposta”, criticou Jorge Botelho, presidente da Associação de Operadores Marítimo-Turísticos dos Açores, ouvido na Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do parlamento açoriano, reunida em Ponta Delgada.
O dirigente associativo referia-se à proposta apresentada pela bancada do PS na Assembleia Legislativa Regional, que pretende que a pesca do atum nos Açores, que é efetuada com a arte de pesca de “salto e vara”, considerada seletiva e “amiga do ambiente”, possa ser permitida dentro das novas áreas de reserva total, aprovada pelos deputados em outubro do ano passado.
“O atum não está parado em cima dos bancos submarinos. É um peixe que tanto está aqui agora, como amanhã de manhã está noutro sítio qualquer”, lembrou Jorge Botelho, acrescentando que os bancos submarinos como o Princesa Alice, D. João de Castro e Condor, e os ilhéus das Formigas, “ou são reservas totais, ou não são!”.
Segundo explicou, a atividade de mergulho e de observação turística, “não se coadunam” com a atividade extrativa, como é a pesca do atum, e alertou para os perigos que isso pode gerar no futuro: “andamos nós debaixo de água e andam as traineiras por cima das nossas cabeças! Temos tido alguma sorte de não ter havido acidentes”.
Jorge Botelho lembra também que a região não tem capacidade para fiscalizar os 26 atuneiros que exercem a atividade nos Açores, e que, se a classe política permitir que possam operar em zonas de reserva total, vai criar “mais um problema” de difícil resolução.
Opinião contrária tem a Direção da Pão do Mar – Associação dos Industriais de Conservas de Peixe dos Açores, também ouvida hoje pelos deputados, a propósito da proposta apresentada pelo Partido Socialista sobre as áreas marinhas protegidas.
“Nós somos solidários com a APASA – a Associação de Produtores de Atum e Similares dos Açores, porque sem produção não há indústria”, advertiu Rogério Veiros, presidente da Pão do Mar, durante a audição parlamentar.
O dirigente explicou que o atum é uma espécie com um comportamento muito imprevisível, que “nunca se sabe onde está, nem para onde vai” e que proibir a pesca desta espécie nos principais bancos da região vai gerar dificuldades aos pescadores e armadores, e por consequência, à própria indústria conserveira.
Rogério Veiros lembrou que existem cinco fábricas de conservas de atum nos Açores, com capacidade para laborarem 15 mil toneladas de pescado por ano, mas que existe um “total défice de pesca” de atum na região, que obriga as conserveiras a adquirirem matéria-prima nos mercados internacionais.
A eventual alteração do diploma aprovado no parlamento regional, que aumentou para 30% as áreas marinhas protegidas dos Açores, tem dividido opiniões, entre os partidos políticos e entre a própria sociedade civil.
Os dois maiores partidos nos Açores (PSD e PS) já encetaram, entretanto, negociações entre si, no sentido de evitar um eventual recuo neste processo e, também, um previsível embaraço junto das instâncias europeias, que, na altura, elogiaram as autoridades regionais pelo aumento das áreas marinhas protegidas nas ilhas.
Segundo apurou a agência Lusa junto dos dois partidos, o acordo poderá passar pelo adiamento da entrada em vigor da rede de áreas protegidas, de forma a permitir que a pesca do atum possa continuar a realizar-se nos bancos submarinos, pelo menos, por mais algum tempo.