O número de cirurgias no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, aumentou este ano, depois da entrada de funcionamento do hospital modular, anunciou hoje a secretária regional da Saúde e da Segurança Social, Mónica Seidi.
“Continuamos a recuperar em toda a linha de atividade do HDES, potenciando a atividade do hospital modular e do velho edifício. É exemplo do que acabo de referir o número de cirurgias realizadas, que aumentou 28% entre fevereiro e junho do presente ano, o que corresponde a 3.308 atos cirúrgicos”, explicou a governante.
A secretária falava no parlamento regional, na Horta, durante a discussão do relatório final da comissão de inquérito ao incêndio no HDES.
Mónica Seidi disse também em plenário que o novo equipamento de ressonância magnética instalado no hospital modular (estrutura provisória construída junto ao edifício principal, atingido por um violento incêndio em 04 de maio de 2024) já permitiu realizar 198 exames, evitando que os utentes e seus familiares tivessem de se deslocar para fora da região.
Os números apresentados pela titular da pasta da Saúde nos Açores foram, no entanto, contestados pelo deputado do PS Carlos Silva, que lamentou que “informação relevante” como esta, tenha sido “omitida” até agora pelo executivo de coligação (PSD/CDS-PP/PPM) e que não tenha sido divulgada previamente.
“Isto é um facto lamentável. É um padrão comum, esconder informação deste parlamento!”, acusou o parlamentar socialista, que continua a levantar muitos dúvidas sobre o “cumprimento da legalidade” das decisões tomadas pelo Governo Regional, relativamente à adjudicação do projeto de construção do hospital modular.
Também Olivéria Santos, deputada do Chega, lamentou a falta de transparência sobre a opção do Governo pelo hospital modular, estrutura que acabou por custar cerca de três vezes mais do que o previsto e demorou mais tempo a construir do que o planeado.
“Fomos enganados em todas as horas”, desabafou a deputada do Chega.
O líder parlamentar do Chega, José Pacheco, também não escondeu a sua revolta e concluiu que “alguém vai encher as algibeiras com isto”, referindo-se à construção do hospital modular, que estava inicialmente orçado em 12 milhões de euros, mas que acabou por custar quase 40 milhões.
O secretário regional dos Assuntos Parlamentares, Paulo Estêvão, saiu em defesa da titular da pasta da Saúde e criticou as declarações do Chega, afirmando que o Governo Regional “não admite suspeições” sobre o desempenho de Mónica Seidi em relação às decisões políticas tomadas após o incêndio de 2024.
A secretária regional da Saúde admitiu que existiram opiniões diferentes entre os técnicos e os clínicos, a propósito da reabertura parcial do HDES após o incêndio, esclarecendo que, “em situações de incerteza, prevaleceu sempre a parte clínica”, apoiada pela posição das ordens dos Médicos e dos Enfermeiros.
O relatório final da comissão de inquérito, que já tinha sido aprovado por unanimidade, foi, entretanto, remetido ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público, para os devidos efeitos legais.
O documento conclui que o incêndio, que ocorreu numa das baterias de condensadores do hospital, teve origem acidental e que, na altura, o sistema automático de deteção de incêndios estava funcional apesar de “obsoleto” e de apresentar “falhas”.
Refere também que os processos de contratualização, conceção e construção da estrutura modular “não foram sujeitos a fiscalização prévia do Tribunal de Contas”, razão pela qual as matérias relacionadas com a legalidade e regularidade financeira “não foram previamente avaliadas”.
O incêndio que deflagrou em 04 de maio de 2024 no Hospital Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, obrigou à deslocalização dos doentes para outras unidades de saúde nos Açores, na Madeira e no continente, tendo o Governo Regional decidido instalar um hospital modular para assegurar os cuidados de saúde até à requalificação do único hospital público da maior ilha açoriana.