Tão relevante e surpreendente foi a novidade trazida pela notícia da RTP Açores que tive de a ver duas vezes: finalmente, um membro do governo regional assumiu publicamente o fracasso da política de habitação do governo regional. Foi nem mais nem menos que o próprio diretor regional da habitação, portanto, alguém seguramente conhecedor da realidade e insuspeito de qualquer antipatia para com o governo regional. Mais importante que tudo isso, reconheceu que esta crise é o resultado das opções do governo regional, novidade que merece destaque, sobretudo porque falamos de um setor essencial para quem cá vive.
As causas apontadas para o drama relacionam-se com a falta de investimento na habitação, nos últimos 10 anos, e com os apoios serem desviados para outros fins. Poderiam também ter sido referido os milhões de apoios – diretos ou indiretos, em verbas ou terrenos – para a construção de novas unidades hoteleiras.
A sinceridade do diretor regional da habitação só se pode comparar com o fracasso de uma política que contribui diariamente para o despejo de famílias, deixando muitas completamente desprotegidas, e que potencia a especulação com os preços das casas. A ilha de São Miguel, com o preço dos imóveis a subir cerca de 30% no espaço de um ano, será o caso mais dramático, mas o problema afeta toda a Região. Constituir família, fixar-se numa localidade e ter habitação própria começa a ser encarado como luxo!
Ora, estas são as opções que a CDU denuncia há anos, mas que o governo regional tenta negar, com a sua habitual propaganda. Agora, já se reconhecerá a evidente razão nas críticas feitas pela CDU? Ou, mais importante que isso, será que a política do governo regional para o setor vai mudar? É que o que está em causa é o incumprimento de três aspetos de relevo: a Constituição da República, as competências previstas na Autonomia Regional e um Direito Humano, essencial para o dia a dia das famílias e para o desenvolvimento social dos Açores.