O politólogo Luís Andrade apontou hoje a descrença na classe política, a falta de escolarização e os níveis de exclusão para explicar o facto de os Açores terem sido a região com a maior taxa de abstenção nas legislativas.

“Uma parte substancial da população deixou de acreditar na política tal como ela se afigura nos dias de hoje. O aparelho partidário, de vários partidos, não satisfaz as aspirações de uma parte da população”, defendeu o professor de Ciência Política da Universidade dos Açores, em declarações à agência Lusa.

Os Açores foram o círculo eleitoral com a maior taxa de abstenção nas eleições legislativas de domingo, com 56,19%, enquanto Braga foi o distrito com a abstenção mais baixa, 30,29%.

Dos 10 concelhos com maior taxa de abstenção, oito estão no círculo eleitoral dos Açores, com Ribeira Grande a liderar, com 62,34% e, em segundo lugar, Vila Franca do Campo, com 61,38%.

Em quarto lugar surge Vila do Porto (59,78%), seguido de Povoação (59,62%), Calheta (59,20%), Velas (57,31%), Vila Praia da Vitória (57,04%) e Lagoa (56,79%).

Para Luís Andrade existe uma “descrença de que o sistema partidário não consegue corresponder às aspirações” da população, sobretudo entre os mais jovens.

O professor catedrático aposentado salientou, também, o contexto social dos Açores, marcado por “níveis alarmantes de pobreza” ou por fracos índices de escolarização.

“É um conjunto de fatores como a pobreza, a exclusão social, a falta de escolarização das pessoas. A falta de cultura política também ajuda a explicar a abstenção. As pessoas não se reveem nos partidos, principalmente as pessoas com menos escolarização”, reforçou.

Segundo dados divulgados em janeiro pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, os Açores registam as taxas de pobreza (24,2%) e de exclusão social (28,4%) mais elevadas do país.

O arquipélago apresenta, também, uma taxa de abandono precoce de educação e formação de 19,8%, bastante acima da média nacional (6,6%), de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).

O professor universitário Luís Andrade considerou que os partidos políticos devem ter a “preocupação de estudar profundamente o problema” da abstenção, mas alertou que a participação política dos cidadãos deve ser uma missão de “toda a sociedade”.

“Não é fácil, não só missão dos partidos políticos, é de toda a sociedade. Desde logo as escolas, quer primárias, secundarias e até à universidade, para começar a fazer com que as pessoas de tenra idade, desde cedo, tenha uma participação ativa para incentivar ao voto em qualquer tipo de eleição”, realçou o politólogo.

Um estudo realizado em 2019 pelo Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – Universidade dos Açores (CICS.UAc) apontava, além de questões administrativas, o nível de escolaridade e a exclusão da participação política como razões para justificar os níveis de abstenção no arquipélago.

A investigação, coordenada por Álvaro Borralho e encomendada pela Assembleia Legislativa dos Açores, defendia que a “melhoria da escolaridade contribui para a proximidade dos cidadãos com a política” e que não existe participação eleitoral “se não houver motivos de interesse político”.

A AD – Coligação PSD/CDS-PP venceu as eleições legislativas de domingo, com 89 deputados, se se juntarem os três eleitos pela coligação AD com o PPM nos Açores, enquanto PS e Chega empataram no número de eleitos para o parlamento, 58.

A IL continua a ser a quarta força política, com mais um deputado (nove) do que em 2024, e o quinto lugar é do Livre, que passou de quatro a seis eleitos.

A CDU (PCP/PEV) perdeu um eleito e ficou com três parlamentares, enquanto o BE está reduzido a um representante, tal como o PAN que manteve um deputado.

O JPP, da Madeira, conseguiu eleger um deputado.

Estes resultados não incluem ainda os eleitores residentes no estrangeiro, cuja participação e escolhas serão conhecidas em 28 de maio.

 

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