No Dia Nacional da Agricultura, o Presidente do Governo Regional apareceu com um sorriso e um discurso polido, rodeado de crianças, hortícolas e jogos didáticos. Disse, sem hesitar, que a economia agrícola “está de boa saúde”, “é excelente e recomenda-se”. Quem o ouvia quase acreditava que vivemos num oásis de prosperidade.
Mas, cá fora, no mundo real, há 14 milhões de euros por pagar aos agricultores — fora os quase 23 milhões que continuam por chegar da República. E essa “saúde de ferro” de que fala o Presidente resume-se, afinal, a um setor que vive à custa da resiliência dos que trabalham, e não do mérito de quem governa.
Quem semeia desculpas, colhe desconfiança!
Os atrasos foram assumidos, é certo, mas com a habitual candura: “há sempre atrasos”, “há razões técnicas”, “a culpa é de Bruxelas, de Lisboa, do apagão e do alinhamento dos planetas”. Mas, Sr. Presidente, quem governa não pode passar quatro anos a dar desculpas como se estivesse a governar por favor. O apagão durou umas horas; o da agricultura dura há quatro anos.
É curioso como o mesmo Governo que falha nos apoios, nos investimentos e nos compromissos com o setor agrícola, é o mesmo que garante, com toda a pompa, que as políticas são “positivas” e que tudo está a correr “excelentemente”. A verdade, Sr. Presidente, é que não basta decorar chavões para mascarar a falta de rumo político.
Quem semeia desculpas, colhe instabilidade!
A dívida aos agricultores não é apenas um número num papel. São projetos adiados, investimentos cancelados, cooperativas asfixiadas, associações a funcionar sem garantias. É um setor que se sustenta com o esforço diário dos produtores e não graças ao Governo.
E não estamos a falar só da agricultura.
A falta de pagamento é o reflexo de algo mais profundo e transversal neste Executivo: promessas vazias, atrasos estruturais, desresponsabilização crónica e uma governação feita à base de propaganda e pose fotográfica.
Quem semeia desculpas, colhe abandono!
Há professores à espera de estabilidade, famílias sem respostas na habitação, empresas sufocadas por burocracias intermináveis, agentes culturais, associações e clubes desportivos à espera dos seus apoios. E agora também as organizações e os profissionais do setor agrícola, parte fundamental do tecido social dos Açores, ouvem que “vai haver liquidez até junho”, como se fosse caridade, e não uma obrigação legal e moral.
Sr. Presidente, não basta aparecer em eventos rodeado de crianças para tentar convencer os açorianos de que está tudo bem. A realidade é outra: é a de um Governo que falhou nos pagamentos, nos apoios e nas políticas. Que falhou na agricultura, como falha em tantas outras áreas.
Quem semeia desculpas, colhe descrédito!
Este Governo já não governa: gere, remenda, justifica. Falha na agricultura como falha na habitação, na saúde, na educação e nos transportes. A desculpa é sempre outra; a responsabilidade é sempre alheia.
Mas quem está no terreno sabe: o problema é o modelo. Um modelo de governação que promete muito e cumpre pouco. Que trata os atrasos como naturais e as promessas como peças de campanha.
Quem semeia desculpas, colhe revolta!
O setor agrícola está a chegar ao limite. E a paciência também. Como afirmou o Presidente da Federação Agrícola dos Açores, se até junho as contas não forem pagas, alguém há de assumir responsabilidades. E não será difícil perceber quem andou a fingir que governava.
A verdade é que o Governo Regional já não engana ninguém. O povo vê. O povo sente. E o povo já percebeu que não se pode alimentar de promessas, nem adubar o futuro com desculpas.