Os trabalhadores dos matadouros dos Açores estão hoje em greve para exigir o pagamento de retroativos de 2024, relativos às alterações na carreira, e admitem nova paralisação numa das alturas do ano de maior procura dos serviços.

“O Governo Regional dos Açores, este ano de 2025, em abril, pagou aos trabalhadores quatro meses referente à mudança de regime. Acontece que o Governo não teve a hombridade de contactar com o sindicato, nem com os trabalhadores, [para explicar] as razões pelas quais não pagou os retroativos referentes ao ano de 2024”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o dirigente sindical António Inocêncio.

O Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas convocou uma greve de um dia nos matadouros públicos dos Açores, geridos pelo Instituto de Alimentação e Mercados Agrícolas (IAMA).

Na Praia da Vitória, na ilha Terceira, a adesão foi de 100%, segundo António Inocêncio, e cerca de duas dezenas de trabalhadores concentraram-se à porta do edifício, para se manifestarem contra o atraso no pagamento de retroativos.

Em causa está a aplicação do Decreto Legislativo Regional n.º 11/2024/A, de 21 de novembro de 2024, que define o regime jurídico da carreira especial dos trabalhadores dos matadouros da rede regional de abate da Região Autónoma dos Açores.

O novo regime previa uma regularização salarial, com retroativos a 01 de janeiro de 2024, mas ainda só foram pagos retroativos a 01 de janeiro de 2025.

“Deduzimos no meio disto tudo que o Governo Regional provavelmente deve estar em falência técnica, porque é uma dívida de 1,9 milhões de euros aos trabalhadores do IAMA”, apontou António Inocêncio.

Segundo os trabalhadores, não foram dadas quaisquer explicações sobre o atraso no pagamento dos valores referentes a 2024.

“Até agora ninguém disse nada. Fizeram o acerto de janeiro até abril de 2025, mas a gente não se contenta com isso. Estão a dar um rebuçadinho, mas a gente não se contenta”, disse Luís Gomes, delegado sindical do IAMA.

O trabalhador pede um acordo com o Governo Regional, com datas definidas para o pagamento dos retroativos, caso contrário admite uma nova paralisação nas festas do Espírito Santo, uma das alturas em que os matadouros têm maior procura para abate de gado bovino.

Se não houver resposta “de que vão pagar, está prevista uma greve por altura dos bodos [festas do Espírito Santo] e é para ser a 100%”, assegurou.

António Inocêncio disse que a greve de um dia, que decorre em todos os matadouros dos Açores, é apenas “um cartão amarelo ao Governo, porque mais lutas se deverão iniciar”.

A greve foi convocada no dia 24 de abril, mas só na terça-feira, véspera da paralisação, o secretário regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura, se reuniu com o sindicato para apresentar uma proposta.

“O Governo teve tempo mais do que suficiente para nos contactar e dar as razões” por que ainda não tinha liquidado “os retroativos referentes ao ano de 2024”, salientou o dirigente sindical.

António Inocêncio não revelou o conteúdo da proposta apresentada pelo executivo açoriano, alegando que será discutida com os trabalhadores, que decidirão se a aceitam ou não.

Os matadouros públicos dos Açores têm mais de 300 trabalhadores.

Segundo o sindicato, na ilha Terceira, a greve teve 100% de adesão, não havendo ainda dados sobre a adesão nas restantes ilhas.

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