Paula Macedo, presidente do conselho de administração do Hospital do Divino Espírito Santo

A diretora clínica e presidente do Conselho de Administração do Hospital de Ponta Delgada (HDES) admitiu hoje que o investimento no hospital modular, após o incêndio de 2024, foi uma escolha clínica, mas garantiu que não decidiu sozinha.

“Há uma tendência para dizer que a decisão foi da Paula Macedo. Eu sou diretora clínica e represento muitas vozes, de muitos diretores de serviço, de muitos responsáveis por unidades, portanto, sou a voz deles todos”, insistiu a gestora hospitalar, ouvida hoje na comissão parlamentar de inquérito ao incêndio no HDES, reunida em Ponta Delgada.

Paula Macedo, que à data do incêndio era apenas diretora clínica do maior hospital dos Açores, passou a acumular, desde novembro de 2024, essas funções com as de presidente do Conselho de Administração, por entender que a entrada de um novo elemento na gestão do HDES poderia interferir com a retoma da atividade assistencial.

“Foi baseado apenas no facto de ter havido um atraso na estratégia do hospital modular, que houve necessidade de se manter a mesma equipa, as mesmas pessoas, e não haver interferência de um novo elemento no Conselho de Administração”, justificou a gestora do HDES, durante a audição parlamentar.

A administradora admitiu agora que, depois de a Secretaria Regional da Saúde e da Segurança Social ter tomada a decisão de investir no hospital modular, que custou mais de 30 milhões de euros, as relações entre o Conselho de Administração (na altura, presidido por Manuela Gomes de Menezes) e a direção clínica acabaram por se deteriorar.

“Sempre houve grande proximidade entre a direção clínica e a presidente e, portanto, só há essa mudança no final de maio, início de junho”, lembrou Paula Macedo, referindo-se ao período em que o Governo dos Açores, presidido pelo social-democrata José Manuel Bolieiro (PSD), decidiu adquirir uma estrutura modular para garantir a atividade assistencial aos doentes do HDES.

Durante a audição aos deputados ao parlamento açoriano, a atual presidente do hospital e diretora clínica confessou também que a determina altura do processo ponderou demitir-se por entender que já não tinha condições para se manter em funções, na sequência de algum “mal-estar” entre os administradores.

“Não conseguia manter-me mais no Conselho de Administração, porque já tinha feito todos os esforços e tudo aquilo que eu achava que estava ao meu alcance, juntamente com os meus adjuntos da direção clínica”, recordou Paula Macedo, acrescentando que estava disposta a “sair, sem qualquer problema” e a dar lugar a outra equipa.

A administradora adiantou também que o mal-estar que, então, se vivia dentro do Conselho de Administração do HDES resultou, em parte, das declarações proferidas por António Vasco Viveiros, antigo deputado regional eleito pelo PSD, que foi nomeado gestor do HDES logo após o incêndio de 04 de maio de 2024, mas que acabou por ser exonerado no final do ano, devido a alegadas divergências.

“Logo nos primeiros dias após a sua chegada e na primeira reunião do Conselho de Administração na sua presença ter dito que iria acabar com o protagonismo da direção clínica. Isto foram palavras utilizadas por ele”, lembrou Paula Macedo, considerando tratar-se de uma “falta de respeito”.

O responsável pelos Cuidados Intensivos do HDES, Abel Alves, criticou, por outro lado, as previsões dos serviços de manutenção daquela unidade de saúde (na altura coordenados por Vasco Viveiros), que apontavam para a possibilidade de o hospital poder reabrir em agosto do ano passado, logo após o incêndio e após intervenções de limpeza e reabilitação.

Segundo Abel Alves, “era impossível reabrir em agosto, em segurança”.

A Comissão de Inquérito ao Incêndio no HDES, criada por proposta potestativa da bancada do PSD na Assembleia Regional, termina na quinta-feira mais uma ronda de audições parlamentares destinadas a apurar as causas e as consequências do incêndio no HDES e também o desempenho do governo regional.

No dia 04 de maio de 2024, o HDES, o maior hospital dos Açores, foi afetado por um incêndio, que obrigou à transferência de todos os doentes para outras unidades de saúde da região, da Madeira e do continente.

Os serviços do hospital reabriram de forma faseada e foi instalado um hospital modular junto ao edifício do HDES, que será alvo de obras de recuperação e modernização.

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