O Governo dos Açores vai criar uma comissão de análise e de acompanhamento para definir o programa funcional final para a recuperação do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, revelou a secretária regional da Saúde.

“É nosso entendimento que haja uma comissão de análise e de acompanhamento do futuro HDES, que, naturalmente, deverá ter representantes da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Enfermeiros, da Ordem dos Engenheiros, de departamentos do Governo – Saúde, Finanças e Obras Públicas –, da ACSS [Administração Central do Sistema de Saúde] e do hospital, para que se consiga chegar a um programa funcional final”, afirmou, em entrevista à Lusa, a titular da pasta da Saúde (PSD/CDS-PP/PPM), Mónica Seidi.

No dia 04 de maio de 2024, o Hospital do Divino Espírito Santo, o maior dos Açores, foi afetado por um incêndio, que obrigou à transferência de todos os doentes para outras unidades de saúde.

Os serviços do hospital reabriram de forma faseada e foi instalado um hospital modular junto ao edifício, que será alvo de obras de recuperação e modernização.

No final de janeiro, a administração do HDES revelou, em comunicado, que já tinha entregado ao executivo açoriano “as versões finais dos dois programas funcionais” que iriam servir de base às obras de “reparação, reorganização e redimensionamento” do hospital, realizados pelas empresas Aripa – Ilídio Pelicano Arquitetos e Antares Consulting.

A administração previa “lançar a empreitada de obras públicas” no “primeiro semestre de 2025”.

Questionada sobre esse prazo, a titular da pasta da Saúde disse que a intenção é, no primeiro semestre do ano, “pelo menos lançar a fase do projeto”.

“Prefiro perder mais dois ou três meses do que fazer um processo apressado. Temos urgência em resolver a situação, mas não podemos ter pressa, atendendo às decisões que têm de ser tomadas”, adiantou.

O executivo açoriano prevê nomear a comissão de análise e acompanhamento “durante o mês de maio” e dar um prazo máximo de 60 dias para que seja definido um programa funcional final, que resulte dos dois já apresentados e que receberão contributos dos diretores de serviço do HDES.

“O programa funcional deve ser lançado a consulta pública ou pelo menos ser dado a conhecer publicamente aos açorianos, para que tenhamos um programa consolidado, que tenha tido discussão pública, que seja transparente, [em] que as escolhas estejam devidamente justificadas”, sublinhou Mónica Seidi.

A titular da pasta da Saúde não avançou com estimativas de prazos ou custos para a recuperação do edifício.

“Sem ter um programa funcional não podemos avançar sequer para esta perspetiva”, argumentou.

Os dois programas apresentados preveem uma aposta na atividade de ambulatório, a modernização da infraestrutura e a possibilidade de a obra ser faseada e sequencial.

“O hospital modular vai servir de estrutura de retaguarda para a rotatividade dos serviços que vão sendo intervencionados”, avançou a secretária regional.

Segundo Mónica Seidi, os dois documentos falam também “na externalização de alguns serviços técnicos, que possam ficar a cargo de outras entidades, que sejam responsáveis pela própria conceção do espaço”.

Em janeiro, a administração do hospital falava numa nova área a ampliar com “cerca de 50.510 metros quadrados”, mas Mónica Seidi disse que “a área de crescimento ainda não está fechada”.

Antes do incêndio, o hospital tinha seis salas de bloco operatório, um número que, segundo a titular da pasta da Saúde, já era insuficiente à data.

“É expectável que haja um crescimento, mas tem de ser avaliado num prazo de 30 ou 40 anos”, apontou, alegando que é preciso adaptar também o número de salas aos recursos humanos existentes.

Apesar de não ser possível prever a data de conclusão da recuperação do HDES, a secretária regional da Saúde assegurou que todas as valências que existiam em 03 de maio de 2024 estão já disponíveis, nalguns casos até com melhorias.

“Não há uma técnica que tenha deixado de ser feita por causa do incêndio. Pelo contrário, estamos a fazer técnicas que não fazíamos antes, sobretudo do ponto de vista cirúrgico, pelo apetrechamento dos equipamentos comprados. Temos pela primeira vez duas salas do bloco operatório que cumprem na íntegra aquilo que é recomendado pela ACSS”, revelou.

Neste momento, o hospital modular tem duas salas de bloco operatório e o antigo edifício do HDES três, mas passará a ter quatro este mês.

O bloco operatório do HDES só abriu em setembro e, “de uma forma geral, houve um aumento de 20% do número de inscritos na lista de espera”.

Em fevereiro, houve sinais de recuperação e Mónica Seidi estima que em maio os números possam começar a estabilizar.

“Enquanto não tivermos tudo otimizado, do ponto de vista dos blocos operatórios, não podemos estar à espera [de] que haja uma redução muito drástica. Mas, tenho a certeza – e os dados de fevereiro já indicam isso – que os profissionais de saúde irão continuar, de forma empenhada, a desenvolver esforços para que consigamos conter e estabilizar e só numa terceira fase começar a reduzir”, salientou.

Segundo Mónica Seidi, o hospital tem recorrido à produção adicional e ao programa CIRURGE e, se for necessário, haverá um “reforço específico” de verbas para combater as listas de espera cirúrgicas.

Quanto às consultas, “vieram sempre a recuperar” e os números do primeiro trimestre de 2025 já são superiores aos do período homólogo, assegurou a titular da pasta.

PUB